"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Não há base alguma que torne possível o mais tenro equilíbrio


Me sinto perdida, nesse momento duas mulheres fazem café enquanto conversam e eu aqui, me perguntando se estou viva. Sinto que algo vai mau, minha psicóloga me diz que algo vai mau, porém não sei dizer onde, como ou porque, me sinto anestesiada, não consigo sentir o que estou sentindo, não consigo perceber mais nada, se quer enxergar, não sei o que estou fazendo ou porque estou fazendo, meus braços, pernas e boca parecem ter vida própria, de repente me vejo em um lugar e não sei ao certo como cheguei ali ou porque eu estou ali, acho que até meu cérebro me abandonou.

Minha psicóloga pensa que é o estresse, eu me cobro de mais, porém não me sinto sobrecarregada, me sinto morta. Não consigo segurar minha vida, tudo passa diante de meus olhos como se eu não fizesse parte de nada. Não é mais questão de me salvar, é questão de me ressuscitar. Me sinto tão morta que nem a ideia de me atirar frente a um carro me anima. O que eu estou fazendo afinal? Toda essa indiferença... De novo algo morreu aqui dentro e eu não me lembro como me levantei em todas as outras vezes.

A vida continua, eu continuo, mas o que eu estou fazendo? Onde estou? Essa decididamente não sou eu, acho que morri e esqueceram de avisar meu corpo, houve um mau entendido, algo não vai bem e eu não sei dizer o que é. Sinto que quanto mais forte meu coração bate mais próxima da morte eu estou. Minha psicóloga faz um trato comigo, vamos melhorar, vamos nos esforçar mais, vamos. Eu concordo e por um instante tenho a ilusão de que é possível melhorar de novo, saindo de lá o peso de ser quem sou cai em minhas costas como uma sentença, e a única coisa que eu lembro da minha terapia é que o que eu tenho vai me acompanhar durante a vida inteira e que eu sempre vou precisar prestar o máximo de atenção possível em todos meus comportamentos e sintomas para tentar prevenir uma nova crise. Sempre. Eu preciso prestar atenção nos meus limites ridículos, preciso lembrar que tenho que me respeitar, me preservar e todas essas coisas ligadas a mim, preciso prestar atenção às pessoas a minha volta, porque qualquer movimento não pensado trás para mim consequências terríveis, preciso ir com calma, aceitar meu tempo, minha lerdeza e incapacidade de funcionar frente a problemas, preciso ficar longe de coisas afiadas, controlar minhas mãos, meu nervosismo e medo irracional de qualquer coisa, preciso, enfim... aprender a viver... mas eu simplesmente não consigo, eu sou burra de mais para lidar com a vida, sou fraca de mais, lerda de mais, sensível de mais.

A única coisa que eu posso dizer que sou boa é fingir que está tudo sob controle. Está tudo sob controle, é só uma peça do meu cérebro que foi arrancada e nunca mais encontrada. Só isso. Agora vivo sem base, parâmetro ou equilíbrio, se é que se pode chamar isso de vida.

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