"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

E agora doutor?


E agora doutor? Você disse que ela iria melhorar, você disse que para tudo existe tratamento, e agora doutor? Doutor, ela não responde ao tratamento, não está vendo? E agora? Doutor, você diz que ela não está sendo ela mesma, você diz que o cérebro dela está doente, você continua dizendo que ela irá melhorar, a cada dose aumentada, a cada novo remédio introduzido. Doutor... Você está errado, o cérebro dela não está doente, o cérebro dela É doente, doutor ela não está fazendo outra coisa se não sendo ela mesma o tempo inteiro, você não entende doutor, o senhor só fala de sintomas e sintomas, ela é um sintoma vivo, ela não sofre da doença, ela É a doença. Existe um remédio que me cure de mim mesma?

Aos poucos entendo que não existe saída, que não há como eu fugir de mim mesma, que eu estou o tempo inteiro sendo treinada para ser tudo menos eu e que isso não vai dar certo. Eu sou totalmente errada, eu penso errado, eu sinto errado, eu ajo errado, eu sei de tudo isso, mas... O que eu posso fazer? Me diga por favor, o que eu tenho que fazer para não ser assim. Me diga os dez passos, os vinte passos, qualquer coisa... Para que respirar pare de doer, para que eu consiga sobreviver a essa porra de mundo, a essa porra de vida, essa porra tudo, sem me destruir. Estamos no limite, onde eu vou parar? Doutor quanto tempo ainda vai demorar para que o senhor perceba que eu não tenho jeito? Doutora, é impressão minha ou você já está desistindo de mim? (E o pior de tudo é que tudo o que eu vejo pode ser simplesmente invenção da minha cabeça)

As vezes tenho vontade de jogar todos esses remédios na sua cara, todos os que eu já tomei, tomo e vou tomar, ou melhor, as vezes tenho vontade de engoli-los todos de uma vez, quem sabe assim eu mato o monstro que tenho em mim. Da mesma forma que veio vai embora, não é doutor? Estou esperando ir embora, estou esperando até hoje ir embora, você sabe muito bem que isso não vai embora, você deveria parar de mentir para mim e tentar falar todas essas palavras ridículas de consolo. Você sabe muito bem que eu sou um fiasco, um caso perdido, uma defeituosa, não precisa falar comigo como se eu ainda tivesse jeito, como se estivesse tudo bem. Não está tudo bem, todo mundo sabe que não está tudo bem, até eu, com minha capacidade de auto-percepção reduzida ao mínimo já entendi que eu não estou bem. Eu só quero que você seja sincera comigo, principalmente agora que estou tão confusa que não percebo mais nada, não tenho crítica nenhuma, eu preciso que você me diga. Quem sou eu? O que há de errado comigo? Você realmente acredita que algum remédio um dia vai me ajudar do jeito que deveria? Doutor... Eu não aguento mais. Tenho vontade de rir quando você fala que pensar em se matar faz parte do meu transtorno, o caso é, o que em mim NÃO faz parte do meu transtorno? E realmente... É um grande consolo saber que pensar em me matar, ver coisas, ataques de pânico, ataques de raiva, humor inconstante, irritabilidade, tendência ao isolamento social, sensação de estar sendo perseguida, ouvir coisas, sentir coisas e todas essas merdas sejam comuns no meu transtorno. Isso não faz eu me sentir melhor, caso você não tenha percebido, só faz eu me sentir cada vez mais doida.

Eu estou cansada doutor... Estou cansada de remédios, cansada de terapia e treinamento para conviver socialmente e essas merdas todas, estou cansada dessa dor no peito, minha cabeça latejante, minha inconstância, meu ódio e amor extremos, meu medo, meus cortes e meu sangue escorrendo pelos meus braços e alma. As vezes... Depois de um ataque de alguma coisa, depois de eu passar a fase do "não aconteceu nada, está tudo bem", eu paro e simplesmente penso que não há saída, eu vou acabar internada, eu sinto... Isso dói, é como se eu já estivesse morta, ser internada, por mais que meu médico e minha psicóloga me digam que não, para mim é como se o mundo tivesse desistido de mim, como se eu tivesse sido taxada de incapaz de viver socialmente, um perigo por existir, etc... Eu consigo viver socialmente, muito bem até, é só que o mundo é espinhoso de mais para mim, eu não causo mau a ninguém diretamente, mas me destruir é um vício e me destruindo eu machuco todos a minha volta. No fim da na mesma, sair cortando o próprio corpo, vendo coisas, chorando e gritando pra todo o lado não é exatamente o modelo de cidadão normal. Eu não acredito em mim mesma. Não... Já passei dessa época, ou melhor, nunca passei por essa época... Mas eu quero tanto que as pessoas a minha volta acreditem em mim, eu preciso tanto, quero dizer, acreditar de verdade... Não quero ser abandonada de novo, não quero ouvir mais nenhum "eu não aguento ficar ao seu lado, me desculpe, eu fiz de tudo, mas você não tem jeito", eu não quero. É injusto eu querer isso, eu sei que é. Se nem eu aguento viver em meu próprio corpo, como posso esperar que alguém consiga conviver comigo durante muito tempo ou "para sempre"? Mas eu quero mesmo assim... E bom, se para isso eu tiver que viver dopada, eu vou continuar dando o meu melhor, estou cansada, muito cansada, mas não há outra alternativa (se não me matar), ainda não cheguei ao ponto de me matar de verdade, ainda não. Vamos lá... 900mg dessa vez, mais 300, mais 50...

2 comentários:

Rodrigo disse...

voce pode me adicionar no msn? rodrigozapata2004@hotmail.com.
bjs

Unknown disse...

oi rodrigo, se você quiser conversar comigo pode me mandar um email! Está ali em cima em "posso ajudar?". Fique a vontade =]