"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Remédios



Eles estão lá todos os dias, às vezes todas as noites, às vezes todas as manhã e noites, e às vezes todas as manhãs, tardes e noites. São nossas muletas, nossos apoios, o que permite que andemos entre as pessoas normais quase sem sermos identificados como desajustados, incompreendidos, incompletos. Precisamos deles, talvez não em uma relação tão mortal quanto um diabético precisa da sua insulina, mas sim como um cego precisa de sua bengala ou cão-guia, por exemplo. Sem eles não podemos seguir em frente, não temos como seguir em frente, qualquer coisa no caminho nos derruba. São eles que nos fazem sorrir mesmo quando as coisas não vão nada bem. São eles que nos anestesiam quando queremos chorar e impedem as lágrimas de caírem. São eles que permitem que a gente minta quando nos perguntam se está tudo bem. São eles que ditam nosso humor e como respondemos ao mundo lá fora.

Tem gente que é contra, tem gente que é a favor. Mas para quem realmente precisa deles, essa discussão não tem importância, tomá-los é questão de vida ou morte. Não que a ausência deles te mate, mas o que você é e o que você tem, sem eles, não se pode chamar de vida. Alguns deles tem efeito quase que imediato, outros demoram dias para fazer efeito, de um jeito ou de outro, todos te transformam de alguma forma e aos pouquinhos, você já não sabe quem é. Onde começa seu eu verdadeiro e onde termina seu eu modificado pelas medicações. Tudo parece um pouco falso de mais, um sorriso, a tranquilidade, o equilíbrio... Tudo combinações químicas em seu cérebro, nada além disso. Uma substância a mais ou a menos é capaz de mudar sua vida inteira, tudo o que você é e vai ser. Não é incrível?

Perigosamente incrível. No fim você não é coisa alguma, a não ser uma construção de substâncias químicas e correntes elétricas, que poderiam estar dispostas de qualquer forma, ou seja, você poderia ser qualquer pessoa, poderia ser de qualquer jeito, ter qualquer doença mental ou ser completamente normal, mas por um acaso e só por isso você é do jeito que é. E precisa dos remédios que precisa, mesmo que isso signifique perder a pessoa que você é. Não gosto da ideia de me perder, de ser só um fantoche na mão de meia dúzia de comprimidos, mas é como eu disse, não tenho escolha, não sobreviveria sem eles.

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