"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

terça-feira, 6 de novembro de 2012

20 anos - Os primeiros de muitos que ainda virão



Meu aniversário está chegando e eu ainda não me acostumei com a ideia de fazer 20 anos. Não me sinto como uma adulta de 20 anos. Me sinto como uma adolescente de 17. Pode parecer pouca a diferença, mas não é. É como se desde o aparecimento dos primeiros sintomas do meu transtorno eu tivesse parado de crescer, congelada no tempo para sempre. Quem me conhece desde aquela época costuma falar que eu amadureci muito, mas eu não me sinto madura. Acho que bem lá no fundo eu continuo a mesma adolescente desencaixada, confusa e instável que eu sempre fui. Talvez todo mundo, na realidade, nunca mude. De qualquer jeito, acho que ao menos aprendi a me controlar um pouco mais, aprendi a pensar um pouco mais antes de fazer alguma coisa. E isso faz toda a diferença. Meus amigos também, aprenderam a me manter longe do álcool, de objetos cortantes e das drogas em geral (menos do cigarro). Isso também faz toda a diferença.

Foi um ano muito difícil. Sei que há coisas pelas quais passei esse ano e coisas que ouvi que eu nunca mais vou conseguir esquecer. Meu psiquiatra falando para meus pais que se eu não estivesse em tratamento desde mais ou menos o começo da minha piora, muito provavelmente eu já teria me matado, a recepção agressiva por parte de um dos pacientes da clínica que eu fui internada, os gritos ali dentro, os choros, os momentos de desespero, a dor constante, os remédios, os xingamentos que eu não conseguia abafar tapando meus ouvidos com as mãos. Foi duro, os dias que antecederam a internação foram difíceis, mas a internação foi muito mais, muito mais do que eu jamais poderia imaginar. Mas tem uma coisa que é certa, eles salvaram a minha vida. Nem todos os dias foram lágrimas e quando foram, algo as recompensou. Os dias longos e intermináveis que eu passei na "casa dos artistas" me deram a força e esperança necessária para que eu pudesse seguir em frente. E ter vivido ao lado de pessoas como eu não só me fez amá-las, respeitá-las e entendê-las, como também fez com que eu olhasse dentro de mim mesma e passasse a ver meu monstro com mais humanidade.

Não há dúvida que o sofrimento de ter sua vida arrancada de suas mãos e ser jogada em uma espécie de prisão é imenso, mas pela primeira vez na vida eu sinto que fui recompensada, que valeu a pena. Posso dizer que esse ano aprendi muitas coisas, entre elas, aprendi que brincadeiras fazem bem para a alma mais do que qualquer crise de choro. E que não importa onde você esteja sempre vai existir alguém para te oferecer um abraço quando a dor estiver forte de mais. Aprendi, enfim, que heróis existem sim, e a única coisa que você precisa fazer é confiar na mão que eles te oferecem. Aprendi que, as vezes, as pessoas que são mais duras com você, são as que mais te querem bem. Aprendi que não tem nada de errado em pedir ajuda quando você precisa dela. Aprendi que ainda há muito para se aprender e que cada ser humano é um universo inteiro, complexo e maravilhoso e que não importa o quanto você se sente desencaixado no mundo, sempre vai existir um lugar que vai fazer você se sentir em casa, um lugar onde você vai ser amado e ninguém mais vai te julgar pelo que você é.

Eu nunca vou esquecer do meu último dia na clínica... Quando todos os outros pacientes correram em minha direção para me abraçar, um por um, antes que eu fosse embora. Obrigada por fazerem eu me sentir tão amada e aceita, obrigada por todo o carinho e apoio. Vocês sempre serão como pais, mães, irmãos e amigos para mim. Foi um bom ano, apesar de tudo... É incrível como as coisas mudam. Em julho eu poderia jurar que minha vida era uma merda e estava extremamente perto do seu fim, hoje me sinto um bebê dando, finalmente, meus primeiros passos. Os primeiros de muitos que ainda virão.

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