"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

domingo, 7 de outubro de 2012

Morto-vivo, camisas de força e anestesias



Talvez seja só egoísmo meu, mas eu estou tão cansada de ser sempre a culpada de tudo que por um instante eu não estou nem ai e a raiva e dor acumuladas durante minha vida inteira são canalizadas para uma única pessoa ou situação, que se eu fosse parar para pensar talvez nem merecesse tanto assim da minha atenção. Dói, uma dor anestesiada pelos tantos remédios que eu tomo, mas mesmo assim uma dor, recorrente, teimosa, aguda. Posso sentir que poderia explodir, posso sentir o quão perto estou disso, como se sentisse o vento a beira de um abismo, mas aqui também algo me segura, acredito novamente serem esses malditos (malditos?) remédios, essa camisa de força em meu cérebro irrequieto. Sinto falta de muitas sensações que costumavam ser tão insuportáveis e me levavam a loucura. Me sinto uma morta-viva sem elas, mas acredito que esse é o preço que eu tenho que pagar para ter o mínimo de estabilidade na vida. As coisas nunca são como a gente gostaria que fossem, infelizmente.

De qualquer jeito, surge um problema. E meu monstro, tão longe, tão perto, se mexe incomodado em sua pequena jaula de Quetiapina, mas eu não faço nada, parece que nem sofrer eu consigo. O problema continua exatamente aonde ele estava e eu não estou lidando com nada. Tenho vontade de fugir, de sair correndo, de jogar todos meus remédios na privada e dar descarga. Meu psiquiatra e minha psicóloga dizem que eu estou bem, mas o que significa "bem"? Eu só me sinto morta. Sinto falta de mim mesma. Isso é ser normal? Isso é ser estável? Se sim, eu já não tenho mais tanta certeza se é isso que eu quero. Eu quero viver, quero fazer as pessoas rirem, quero poder beber a porra de um copo de vinho sem que isso soe como o pior crime que eu poderia ter cometido no mundo. Quero ser normal de verdade e poder cometer pilhas de erros como todo mundo sem que isso seja uma grande coisa. Mas não, eu não posso. As pessoas dizem que eu deveria exigir menos de mim mesma, mas o que eu posso fazer se cada pequeno erro ou deslize meu já quase me custaram minha vida? Todos os dias eu preciso estar atenta e arranjar forças sabe-se deus onde, porque em questão de segundos eu posso piorar drasticamente, nunca se sabe. Não há folga, ninguém pode fazer isso por mim. Não posso errar em momento algum, não posso fraquejar. Meu monstro, minha doença, está sempre a espreita, sempre esperando o momento certo para assumir o controle.

É uma guerra e não importa muito quem vença, no fim eu sempre saio perdendo.

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