"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Medos



Quando se começa algo novo é natural termos medos. O medo é natural, se render à ele não. Tenho muitos medos... Medo do que as pessoas vão pensar quando descobrirem que sou quem sou e passei pelo que passei, medo de não me encaixar em qualquer ambiente ou grupo de pessoas, medo de nunca conseguir falar o que quero, penso ou sinto, medo de olhar nos olhos, de ser julgada injustamente. Tenho medo da injustiça, claro, tenho medo de pessoas más, de homens, principalmente. Medo de lugares muito cheios e lugares muito vazios, medo de dormir de noite quando todo mundo já foi dormir, tenho medo de não ser levada a sério, de gente gritando perto de mim ou comigo, tenho medo de pegar metrô, ônibus e táxi, tenho medo de pessoas perto de mais ou do toque de um estranho. Tenho medo das coisas que vejo e que não deveria ver, tenho medo das lembranças, tenho medo de qualquer coisa que possa me lembrar coisas ruins, tenho medo de certos tipos de olhares e formas de falar. Tenho medo de viver, de perder alguém importante, de ser abandonada ou me sentir abandonada em qualquer momento.

E no entanto a gente precisa continuar de alguma forma. Eu fujo das pessoas, fujo de muitas situações que me fazem tremer de nervosismo só de pensar, mas mesmo assim, nunca me rendi a uma cama 24 horas por dia... Imagino que isso seja bom. Mas preciso de mais coragem. Coragem e mais coragem... e força, muita força. É difícil, fico repetindo o tempo todo que é difícil, mas mesmo assim sinto que as pessoas a minha volta não entendem. Talvez elas não devam entender mesmo. Ontem pensei que nunca mais iria conseguir sair do banheiro porque o medo me tomou de tal forma que eu pensei que iria morrer ali mesmo. É algo inexplicável que te tira quase todas as alternativas a não ser aquelas consideradas autodestrutivas. Você PRECISA bater a cabeça na parede porque se não aqueles pensamentos nunca vão te deixar em paz, você PRECISA se arranhar, se bater e se cortar. Lutar contra essa "necessidade", quando sua mente se torna um caos incontrolável, é muito difícil.

Mas as pessoas não entendem. Elas pensam que você só precisa se esforçar mais um pouquinho, pensam que você não está fazendo o bastante, que é sim possível controlar isso ou aquilo. Não é assim que as coisas funcionam, mas te dizem tanto isso que para não criar mais atritos você abaixa a cabeça e concorda que vai se esforçar melhor da próxima vez. Fazer o que? Sim, sim, prometo que vou me esforçar. A raiva queimando em sua garganta. Prometo, prometo. Vamos mudar de assunto agora, vamos?

Diga a um daltônico que basta ele se esforçar para ver as cores certas, diga a um diabético que basta ele se esforçar que seu organismo vai conseguir lidar com o açúcar... É um absurdo. É assim. Entendem? Você não pode pedir para um bipolar se esforçar para controlar seus picos de humor, você não pode esperar que um depressivo saia da cama só pelo seu esforço ou mandar um esquizofrênico sair de um surto psicótico porque ele quer. Não é assim que as coisas funcionam.

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