"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

domingo, 8 de setembro de 2013

Mundo particular



Vivo em um mundo pequeno e abafado. Não há nada aqui, a não ser essa escuridão que me cerca e me destrói por dentro. Posso ouvir o que acontece lá fora e por mais que as paredes desse lugar sejam finas e frágeis, eu me sinto totalmente separada do universo que existe do outro lado. Encolho minhas pernas junto ao meu corpo porque assim eu me sinto mais segura. Não sei ao certo porque o mundo lá fora me assusta tanto, mas eu não posso deixar que a parede ao meu redor se rompa, não posso de jeito nenhum, é a única coisa que eu sei desde sempre. Preciso dela para sobreviver. Então me encolho cada vez mais e rezo para que ninguém se aproxime e coloque em risco a minha frágil existência.

O mundo lá fora é novo e assustador, e guarda respostas para perguntas que eu nunca quis fazer. Verdades que talvez eu não queira ouvir, por serem destrutivas demais, insuportáveis demais. Aqui dentro não, tudo é previsível, finito e seguro. Eu não quero ter que abrir meus olhos, sair da casca, crescer, quebrar o muro. Eu prefiro a dúvida à verdade. A dúvida é mais confortável pela quantidade de opções de verdades, pela maravilhosa certeza de que tudo pode ter sido de outro jeito, mais bonito, mais feliz e menos trágico. Aqui dentro tudo pode ter sido diferente e eu estou segura, e é isso o que mais importa, o que realmente importa.

O problema é a escuridão e o fato de eu estar sempre só. Isso me consome viva. E a cada instante que eu passo presa aqui dentro, parece que eu estou mais e mais sozinha, e que tudo fica cada vez mais escuro a minha volta. Fico dividida entre a solidão e o medo do mundo lá fora. O que eu posso fazer? Aqui dentro é seguro, lá fora estão todas as outras pessoas, uma vida decente, onde eu deveria estar, se eu não fosse frágil e fraca demais para suportá-la. Me encolho mais um pouco e murmuro que esta tudo bem. Por quanto tempo eu conseguirei manter essa mentira a minha volta como uma armadura? Por quanto tempo eu conseguirei fugir da realidade que me bate a porta já há tanto tempo? A verdade nua e crua, que sem nem um pingo de piedade, ameaça me quebrar por inteiro? Por quanto tempo?

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