"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Carta ao meu professor de psicologia



Eu não sei qual é sua história de vida e experiências, nem no que você se baseia para falar o que fala, mas uma coisa eu sei. Eu venho lutando contra minha doença há mais de três anos, já fui internada três vezes e tomos remédios fortíssimos, mas nenhuma dessas coisas é desculpa para eu desistir do mundo e muito menos motivo para o mundo desistir de mim. Eu sou como qualquer pessoa que tem uma doença crônica, seja ela uma diabetes ou uma esquizofrenia, tanto faz, as duas requerem cuidado e tratamento constante. De novo, eu não sei no que você se apoia para falar o que você fala, mas nem todos os pacientes psiquiátricos são lesados por causa dos remédios, e minha aparente normalidade é prova viva contra isso. Nem todos os pacientes psiquiátricos são lerdos ou tremem o tempo inteiro e principalmente, nem todos os que são internados, não importa quantas vezes, estão perdidos para o mundo, nem são aquele tio ou tia "esquisitos" nas festas de família, que não falam nada com nada e nunca saíram da casa dos pais. Nós não somos fracassados.

Talvez você até ache infantilidade da minha parte mas eu realmente acredito que eu tenho uma chance de ter uma vida normal e se eu não acreditar nisso eu vou me matar. Eu tenho 20 anos, se eu não acreditar em um futuro não há motivos para eu continuar viva. De qualquer jeito eu não me importo muito com o que você pensa sobre pessoas como nós, meu incômodo foi com o fato de você falar tantas coisas preconceituosas na frente de alunos que estão, no mínimo, aprendendo com você. É um pouco desesperador ver aquela pequena multidão de olhos prestando atenção no senhor enquanto você pinta um esteriótipo já há muito defasado. Repito, hoje em dia ter uma doença mental deveria ser vista somente como ter mais uma doença e ponto.

Mas não, ela não é vista dessa forma. Eu sei que não foi sua intensão mas se um dia meus colegas de faculdade descobrirem quem eu sou, minhas doenças e internações (e eles vão descobrir mais cedo ou mais tarde), eles agora vão olhar para mim como uma pessoa que o mundo desistiu, uma espécie de café-com-leite no grande jogo da vida, uma fracassada, alguém digno de pena. E eu não sou assim. Eu decididamente não sou assim. Há tanto sobre mim além da doença e no entanto é só isso que vai aparecer e isso é tão injusto. Eu sei que você só estava dando uma aula qualquer em um dia qualquer, mas você quase me fez chorar e eu me senti bastante angustiada... E eu não posso deixar de pensar que há pessoas como eu por aí, ouvindo o que você diz e desejando morrer, preferindo morrer a ter sua realidade exposta para as pessoas a sua volta e isso não está certo. Não deveríamos ter vergonha de nós mesmos, não deveríamos ser chamados de fracassados por sermos doentes, não deveríamos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Estou com medo de descobrirem que eu sou Bordeline! Quando não sabia o que eu tinha, meus comportamentos ficavam mais expostos. Agora que sei, tento esconder e controlar, mas por dentro estou explodindo, morrendo, chorando e gritando. Tenho medo de me assumir e me largarem.