Depois da tempestade vem a calmaria, e com ela, a culpa e a dor de ter fraquejado novamente, o arrependimento e a voz na sua cabeça que não te deixa em paz. Faça de novo, faça de novo, mais fundo, mais fundo, mais fundo. A tempestade passou mas você está longe de estar em paz, o que é paz? É um maldito de um vício, você dá ouvido ao monstro que você tem em seu peito e ele não cala mais a boca por dias, às vezes semanas e o que você mais quer no mundo é desistir, é cortar suas veias de uma só vez para que ele, enfim, cale a boca e te deixe em paz. Mas ele não cala, quanto mais você se corta, mais ele grita em seus ouvidos e se você tenta parar, pode ter certeza que ele vai fazer da sua vida um inferno. É quase como não ter saída, é quase como estar encurralado, é um caminho escuro e sem volta. E você se pergunta porque fez isso dessa vez, porque deu ouvidos para ele, porque está agora onde está e nenhuma resposta é boa o bastante. São só vontades que aparecem como furacões e você não tem como segurá-las.
Uma das coisas que eu mais odeio sobre o meu problema é o fato dele atingir as pessoas a minha volta. Eu odeio isso, odeio de verdade. Meu maior sonho é poder morar sozinha um dia, em um lugar onde eu possa me destruir sem ninguém me ver, um lugar onde eu poderia gritar e chorar e ninguém me escutaria, não seria ótimo? Eu odeio causar problemas e no entanto é só isso que eu faço, a cada corte que eu abro em minha pele vem uma enxurrada de consequências ruins, mas ao invés de eu aprender com elas, acontece o contrário, eu me corto mais e mais vezes, cegamente, compulsivamente. E uma parte de mim queria ter coragem o suficiente para cortar fundo o bastante, enquanto eu escuto a voz na minha cabeça me mandando fazer exatamente isso. Outra parte de mim, uma bem menor, tem medo, não da morte, mas medo de que a tentativa não de certo e as consequências sejam ruins de mais para que eu as suporte mais um vez.
Você consegue enxergar para qual caminho eu estou indo? É tudo muito claro, eu preciso de ajuda. É irônico, eu tenho toda a ajuda do mundo e ainda assim preciso de mais. Sinto como se fosse uma sanguessuga das pessoas a minha volta, sugando sua energia e alegria constantemente. Eu não estou bem. Uma das única coisas que me passam pela cabeça é o fato de que eu quero me cortar e que eu preciso acabar com isso de alguma forma. Ou a Sabrina ou o Monstro precisam morrer, não há lugar aqui dentro para os dois viverem em harmonia. Minha vida é uma luta constante e eu estou cansada. Estou cansada... Acho que tenho o direito de estar cansada! Chega.