"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Save me



Depois da tempestade vem a calmaria, e com ela, a culpa e a dor de ter fraquejado novamente, o arrependimento e a voz na sua cabeça que não te deixa em paz. Faça de novo, faça de novo, mais fundo, mais fundo, mais fundo. A tempestade passou mas você está longe de estar em paz, o que é paz? É um maldito de um vício, você dá ouvido ao monstro que você tem em seu peito e ele não cala mais a boca por dias, às vezes semanas e o que você mais quer no mundo é desistir, é cortar suas veias de uma só vez para que ele, enfim, cale a boca e te deixe em paz. Mas ele não cala, quanto mais você se corta, mais ele grita em seus ouvidos e se você tenta parar, pode ter certeza que ele vai fazer da sua vida um inferno. É quase como não ter saída, é quase como estar encurralado, é um caminho escuro e sem volta. E você se pergunta porque fez isso dessa vez, porque deu ouvidos para ele, porque está agora onde está e nenhuma resposta é boa o bastante. São só vontades que aparecem como furacões e você não tem como segurá-las.

Uma das coisas que eu mais odeio sobre o meu problema é o fato dele atingir as pessoas a minha volta. Eu odeio isso, odeio de verdade. Meu maior sonho é poder morar sozinha um dia, em um lugar onde eu possa me destruir sem ninguém me ver, um lugar onde eu poderia gritar e chorar e ninguém me escutaria, não seria ótimo? Eu odeio causar problemas e no entanto é só isso que eu faço, a cada corte que eu abro em minha pele vem uma enxurrada de consequências ruins, mas ao invés de eu aprender com elas, acontece o contrário, eu me corto mais e mais vezes, cegamente, compulsivamente. E uma parte de mim queria ter coragem o suficiente para cortar fundo o bastante, enquanto eu escuto a voz na minha cabeça me mandando fazer exatamente isso. Outra parte de mim, uma bem menor, tem medo, não da morte, mas medo de que a tentativa não de certo e as consequências sejam ruins de mais para que eu as suporte mais um vez.

Você consegue enxergar para qual caminho eu estou indo? É tudo muito claro, eu preciso de ajuda. É irônico, eu tenho toda a ajuda do mundo e ainda assim preciso de mais. Sinto como se fosse uma sanguessuga das pessoas a minha volta, sugando sua energia e alegria constantemente. Eu não estou bem. Uma das única coisas que me passam pela cabeça é o fato de que eu quero me cortar e que eu preciso acabar com isso de alguma forma. Ou a Sabrina ou o Monstro precisam morrer, não há lugar aqui dentro para os dois viverem em harmonia. Minha vida é uma luta constante e eu estou cansada. Estou cansada... Acho que tenho o direito de estar cansada! Chega.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

(Não) Realidade



O mundo não era assim ontem. Tudo está um pouco... assustador, volátil. Enquanto no meu peito o vazio consome tudo, a minha volta o tudo se transforma. E uma sombra não é mais só uma sombra, um barulho não é mais só um barulho, as risadas se transformam em ofensas e as palavras adquirem significados paralelos. Eu não sei mais aonde estou, para onde estou indo, quem sou, porque eu estou fazendo o que estou fazendo. Meu cérebro uma bagunça, meus olhos embaçados, meu coração despedaçado. Meus pés me levam para um lugar qualquer e eu não sei, não sei coisa alguma. Sinto cheiro de mijo onde quer que eu esteja, tudo parece um pouco podre demais. Meus ouvidos escutam coisas que não deveriam ouvir. Não me sinto parte de meu próprio corpo. Sinto como se estivesse sendo seguida, observada, julgada. Olho para trás e não vejo nada, mas eu sinto, eu sei, tem alguém ali, bem ali, alguém que quer me fazer mal, do mesmo jeito que sinto alguém dentro de mim, que me quer muito, muito mal. Levo a mão ao meu peito e rezo para que esse monstro dentro de mim continue preso, mas talvez já seja tarde demais, sempre que eu o sinto já é tarde demais.

Eu poderia me cortar agora, eu sei que isso faria meu mundo voltar ao normal pelo menos por alguns minutos, mas eles me tiraram todas as giletes, todas as facas e lâminas, eles me observam aonde quer que eu vá, eles nunca me deixam sozinha. Mas agora, agora mesmo, quem deveria estar me vigiando está dormindo, eu poderia me cortar, eu poderia... Mas me contento em fumar um cigarro escondida, é o que tem para hoje, é o que eu posso fazer. Fumar não vai me levar de volta para a clínica, os cortes vão. E eu não posso voltar, não agora, não tão rápido, não, não. Eu vou lutar por quanto tempo eu conseguir, mesmo que meu mundo esteja desmoronando como agora a pouco e tudo esteja muito estranho, eu vou lutar. Eu devo isso para as pessoas que não desistem de mim apesar de tudo, mesmo depois de três internações e muitos abusos por minha parte. Eu devo isso, principalmente, para mim mesma. Porque eu não desisti de mim mesma mesmo sabendo a gravidade dos meus problemas e convivendo com eles diariamente, eu não desisti, ainda não, já cheguei perto, muitíssimo perto, mas ainda estou aqui, talvez não tão firme e forte, mas o mais forte e firme que eu posso ser.

As coisas podem não estar muito bem agora, eu posso ter medos bobos e acreditar em besteiras que minha mente me faz acreditar, mas eu posso escrever, eu sempre posso escrever e isso me ajuda muito. Gosto de colocar meu sofrimento no papel, permite que eu me afaste um pouco dele e enxergue as coisas com um pouco mais de clareza. Permite que eu respire com um pouco mais de calma e com sorte... Com sorte tudo passa. Para depois voltar, sempre volta, mais fraco ou mais forte, cedo ou tarde. E lá vou eu de novo. Meus pés caminham sem destino, minha mente uma bagunça. Quem sou eu? Por que eu faço o que estou fazendo? Para onde estou indo? E em algum momento as lágrimas não serão o bastante, em algum momento eu vou precisar sangrar de novo, é uma das poucas coisas que eu tenho certeza na minha vida. O que eu posso fazer agora é tentar estender o tempo bom ao máximo, é o que eu faço, é pelo que eu luto por.

domingo, 15 de setembro de 2013

Ponto final.



Vejo fotos e sorrisos e eu não estou lá. Era minha vida e eu não estou lá. Era o paraíso que eu conhecia e tinha a prepotência de dizer que era meu. Mas você me tirou tudo. Eu não estou mais lá. Todas as promessas que você me fez, vazias e sem sentido, mortas. Eu nunca mais vou voltar, nunca mais vou passar os dias sorrindo, vivendo em um planeta paralelo onde minha existência era mais leve e gratificante, nunca mais... Agora eu tenho que recomeçar do zero, não é nada fácil recomeçar do zero. Eu tenho alguém, nunca vou poder te contar mas agora eu tenho alguém, alguém que me escuta, que se preocupa comigo e me coloca em primeiro lugar, ao contrário de você e eu estou feliz por isso, estou feliz com a minha sorte. Mas ainda sinto falta daquele universo que construímos juntas, quero um novo universo, preciso de um novo universo. Promessas, sonhos, uma cama onde eu possa descansar minha cabeça e vê-la dormindo. Ela não tem nada a ver com você e isso é uma bênção. Quem sabe agora não dê certo. Ela é bonita, mas isso não é o mais importante, a verdade é que ela é incrível, doce e gentil, carinhosa como ninguém.

É uma pena que você não se importe mais comigo, que não queira mais se quer ser minha amiga, eu queria poder te contar sobre ela, você poderia me dar dicas de como tratá-la melhor, seria divertido. Mas você não está aqui, e nunca vai estar... Você está ocupada demais se colocando em primeiro lugar, acima de qualquer um, custe o que custar. É uma pena. Eu realmente te odeio por isso. Mas quais melhores amigos não se odeiam tanto quanto se amam? Você foi minha melhor amiga por muito tempo e aqui dentro ainda dói... Dói demais. O que eu mais quero no mundo é te esquecer. É triste mas acho que eu queria poder apagar todos os momentos bons que passei ao seu lado só para não precisar sofrer hoje. Sinto como se tivesse desperdiçado os últimos anos da minha vida. Eu lutei tanto por você, fiz tudo o que eu podia fazer mas nossas vontades são esquisitas. Nós queremos tudo o que não podemos ter, certo? E meu erro foi ser sua desde o começo, assim, naturalmente, sem ser preciso uma palavra se quer, um jogo de sedução ou o que quer que seja, não... Aconteceu.

Meu erro foi te oferecer todo o meu amor cegamente, sem medo, sem medida, puro e simples. Eu mergulhei de cabeça... Mas eu aprendi a lição, não mergulho mais de cabeça em coisa alguma, não me entrego mais por completo. Não posso sofrer de novo tudo o que eu sofri com você, meu coração não aguentaria. Vou sentir sua falta... Minha história está aos poucos recomeçando e é desconcertante observar que eu consigo caminhar sem você ao meu lado, eu realmente consigo, gostaria que você estivesse aqui para ver isso, você ficaria orgulhosa de mim. Vou sentir sua falta e aos poucos... Vou te esquecer, vou chorar por outras pessoas, outros motivos, vou cair de novo e o motivo não vai ser você. Adeus minha melhor amiga, é uma pena que nosso relacionamento tenha sido unilateral o tempo inteiro, adeus.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Bom o bastante



Nada é bom o bastante por tempo suficiente. Sempre... Falta algo. Essa angustia no meu peito que nunca me deixa, essa tristeza, essa falta de vontade, esses monstros que me rondam toda a vez que eu fecho meus olhos, esse medo, essa instabilidade, essa vontade gritante de fazer algo errado ou impensado. Tudo isso me destrói pouco a pouco e eu sinto, eu sinto que estou prestes a cair, a qualquer momento agora, ou amanhã, ou depois de amanhã, não importa, é tudo uma questão de tempo. Tem sempre algo de errado, algo terrivelmente errado... Eu gostaria que um sorriso bastasse, que um abraço bastasse... Mas os sorrisos sempre morrem, o abraço sempre se desfaz e eu estou jogada de volta ao mundo sem segurança nenhuma, totalmente só, mesmo acompanhada, totalmente só. Imagino que algo dentro de mim tenha morrido há alguns poucos meses atrás enquanto eu tentava me matar, é a única explicação que parece fazer sentido. E eu não posso deixar de pensar, que é só uma questão de tempo também, até que eu decida matar o que restou de mim. A verdade é que às vezes tudo perde o sentido e eu não sei mais porque continuo a caminhar, muito menos para onde estou indo, para lugar algum muito provavelmente, andando em círculos. E é nesses momentos em que eu penso seriamente em parar... Afinal porque eu estou lutando tanto assim? A troco de que?

Eu dificilmente vou ter uma vida boa ou fácil pela frente, sinto que a cada dia uma infinita possibilidades de caminhos se fecham para mim... Eu estou cansada de ouvir quantas coisas eu não posso fazer por causa da minha doença. A cada dia é como se viver, ter uma vida minimamente normal, se torna mais e mais difícil. Tudo o que eu quero é me trancar em meu quarto e dormir para sempre, dormir até esquecer de tudo, será possível? Quero esquecer a criança que eu fui, quero esquecer cada lembrança ruim da minha mente, espalhadas e quebradiças, quero esquecer todas as vezes que fui internada, quero esquecer minha doença e as coisas horríveis que eu já fiz por causa dela. Quero poder nascer de novo, certa dessa vez, saudável dessa vez. Quero ser serena e estável para variar. Quero uma segunda chance... Todo mundo merece uma segunda chance. Sinto como se tivesse feito tanta coisa errada nessa vida que não tivesse mais jeito, a não ser jogá-la fora.

Exagero meu, sei bem que existem muitas pessoas muito piores do que eu e que nem por isso desistiram, mas eu sou assim mesmo, eu realmente me sinto assim e me comparar aos demais não diminui a minha dor, infelizmente. São sensações. A sensação de que eu estou perdida, a sensação de que eu fracassei, a sensação de que eu não posso melhorar, a sensação de que não há mais nada a fazer... Não sei como me livrar delas e tudo isso me atormenta diariamente. É como se todo o santo dia eu desse o melhor de mim em uma guerra que já foi perdida, é inútil e cansativo. Me faltam armas, me falta jeito, me falta uma máquina do tempo. Voltar ao passado, antes dessa guerra ter terminado, fazer tudo diferente desde então, dar uma chance para a criança que eu nunca fui, é o que eu teria que fazer. Uma pena, tarde demais.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Sobre a felicidade



Talvez a felicidade não se encontre em uma vida estável, onde todos os dias sejam de sol e nada pareça ser capaz de perturbar a calmaria. Não... A felicidade se encontra em momentos que vem e vão, fugazes, as vezes quase imperceptíveis. Um sorriso, um abraço, uma palavra, o silêncio que diz mais do que qualquer outra coisa. E é exatamente por isso que toda e qualquer pessoa tem a chance de ser feliz. Porque não importa o quão ruim sua vida esteja, esses pequenos momentos ainda vão existir, é só você valorizá-los ao invés de esquecê-los. Nada é tão ruim que dure para sempre, é o que eu acredito. Preciso acreditar nisso para conseguir seguir em frente, principalmente quando as coisas vão mal. Principalmente quando uma sensação ruim começa a rondar minha vida, que é como eu me sinto na maioria dos dias, como se algo muito ruim estive prestes a acontecer, o que diminui até quase desaparecer qualquer coisa boa que possa estar acontecendo. É o medo que adianta o sofrimento, que me faz lembrar todos os dias onde eu já estive, e para onde eu posso voltar a qualquer momento. É torturante, arrasador.

Mas não é sobre isso que eu quero falar hoje. Hoje eu quero falar sobre a felicidade. Ela está bem aqui, sempre ao alcance, sempre por perto, sempre desvalorizada e esquecida, diminuída, excluída. Por que? Por que nós damos mais valor para as coisas ruins a nossa volta do que para as boas? Por que uma única coisa ruim é capaz de estragar um dia inteiro ótimo? Seria bom se fosse o contrário, seria bom se um único e pequeno gesto ou situação boa pudesse transformar um dia inteiro ruim, mas as coisas não são assim. Quando choramos, não nos lembramos de todos os sorrisos que demos antes dessas lágrimas e muito menos pensamos que ainda teremos infinitos sorrisos pela frente. É como se fosse o fim do mundo, a cada tombo ou tropeçada, o fim do mundo. Como se tivéssemos ido morar em um lugar onde a felicidade não nos pode mais alcançar. E isso não é verdade, não existe lugar no mundo onde não exista um pingo que for de esperança, esperança de que um dia nós iremos voltar a sorrir. Nós iremos voltar a sorrir, pode ter certeza.

Então enxugue essas lágrimas e levante novamente. Não importa quantas vezes você caia, a felicidade continua bem ao seu lado, só basta você se levantar. Não desista. Você tem tanta chance de ser feliz como qualquer outro. É o que eu acredito pelo menos, é o que me faz seguir em frente.

domingo, 8 de setembro de 2013

Mundo particular



Vivo em um mundo pequeno e abafado. Não há nada aqui, a não ser essa escuridão que me cerca e me destrói por dentro. Posso ouvir o que acontece lá fora e por mais que as paredes desse lugar sejam finas e frágeis, eu me sinto totalmente separada do universo que existe do outro lado. Encolho minhas pernas junto ao meu corpo porque assim eu me sinto mais segura. Não sei ao certo porque o mundo lá fora me assusta tanto, mas eu não posso deixar que a parede ao meu redor se rompa, não posso de jeito nenhum, é a única coisa que eu sei desde sempre. Preciso dela para sobreviver. Então me encolho cada vez mais e rezo para que ninguém se aproxime e coloque em risco a minha frágil existência.

O mundo lá fora é novo e assustador, e guarda respostas para perguntas que eu nunca quis fazer. Verdades que talvez eu não queira ouvir, por serem destrutivas demais, insuportáveis demais. Aqui dentro não, tudo é previsível, finito e seguro. Eu não quero ter que abrir meus olhos, sair da casca, crescer, quebrar o muro. Eu prefiro a dúvida à verdade. A dúvida é mais confortável pela quantidade de opções de verdades, pela maravilhosa certeza de que tudo pode ter sido de outro jeito, mais bonito, mais feliz e menos trágico. Aqui dentro tudo pode ter sido diferente e eu estou segura, e é isso o que mais importa, o que realmente importa.

O problema é a escuridão e o fato de eu estar sempre só. Isso me consome viva. E a cada instante que eu passo presa aqui dentro, parece que eu estou mais e mais sozinha, e que tudo fica cada vez mais escuro a minha volta. Fico dividida entre a solidão e o medo do mundo lá fora. O que eu posso fazer? Aqui dentro é seguro, lá fora estão todas as outras pessoas, uma vida decente, onde eu deveria estar, se eu não fosse frágil e fraca demais para suportá-la. Me encolho mais um pouco e murmuro que esta tudo bem. Por quanto tempo eu conseguirei manter essa mentira a minha volta como uma armadura? Por quanto tempo eu conseguirei fugir da realidade que me bate a porta já há tanto tempo? A verdade nua e crua, que sem nem um pingo de piedade, ameaça me quebrar por inteiro? Por quanto tempo?

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Carta ao meu professor de psicologia



Eu não sei qual é sua história de vida e experiências, nem no que você se baseia para falar o que fala, mas uma coisa eu sei. Eu venho lutando contra minha doença há mais de três anos, já fui internada três vezes e tomos remédios fortíssimos, mas nenhuma dessas coisas é desculpa para eu desistir do mundo e muito menos motivo para o mundo desistir de mim. Eu sou como qualquer pessoa que tem uma doença crônica, seja ela uma diabetes ou uma esquizofrenia, tanto faz, as duas requerem cuidado e tratamento constante. De novo, eu não sei no que você se apoia para falar o que você fala, mas nem todos os pacientes psiquiátricos são lesados por causa dos remédios, e minha aparente normalidade é prova viva contra isso. Nem todos os pacientes psiquiátricos são lerdos ou tremem o tempo inteiro e principalmente, nem todos os que são internados, não importa quantas vezes, estão perdidos para o mundo, nem são aquele tio ou tia "esquisitos" nas festas de família, que não falam nada com nada e nunca saíram da casa dos pais. Nós não somos fracassados.

Talvez você até ache infantilidade da minha parte mas eu realmente acredito que eu tenho uma chance de ter uma vida normal e se eu não acreditar nisso eu vou me matar. Eu tenho 20 anos, se eu não acreditar em um futuro não há motivos para eu continuar viva. De qualquer jeito eu não me importo muito com o que você pensa sobre pessoas como nós, meu incômodo foi com o fato de você falar tantas coisas preconceituosas na frente de alunos que estão, no mínimo, aprendendo com você. É um pouco desesperador ver aquela pequena multidão de olhos prestando atenção no senhor enquanto você pinta um esteriótipo já há muito defasado. Repito, hoje em dia ter uma doença mental deveria ser vista somente como ter mais uma doença e ponto.

Mas não, ela não é vista dessa forma. Eu sei que não foi sua intensão mas se um dia meus colegas de faculdade descobrirem quem eu sou, minhas doenças e internações (e eles vão descobrir mais cedo ou mais tarde), eles agora vão olhar para mim como uma pessoa que o mundo desistiu, uma espécie de café-com-leite no grande jogo da vida, uma fracassada, alguém digno de pena. E eu não sou assim. Eu decididamente não sou assim. Há tanto sobre mim além da doença e no entanto é só isso que vai aparecer e isso é tão injusto. Eu sei que você só estava dando uma aula qualquer em um dia qualquer, mas você quase me fez chorar e eu me senti bastante angustiada... E eu não posso deixar de pensar que há pessoas como eu por aí, ouvindo o que você diz e desejando morrer, preferindo morrer a ter sua realidade exposta para as pessoas a sua volta e isso não está certo. Não deveríamos ter vergonha de nós mesmos, não deveríamos ser chamados de fracassados por sermos doentes, não deveríamos.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Corda-bamba



O vento bate em meu rosto suado e eu dou mais um passo a frente. A corda bamba sob meus pés parece balançar mais a cada novo passo. Lá embaixo o precipício me aguarda e a frente o horizonte se estende para sempre. As vezes eu fico muito cansada, mas eu tenho que seguir em frente, não há outra opção. Tenho péssimas lembranças dos meus tombos no passado, eu simplesmente não posso cair de novo. Então dou mais um passo vacilante e mais outro, e mais outro. Talvez com o tempo eu me acostume com essa corda bamba, até ela parecer tão firme quanto um caminho largo de pedras. Pode ser só uma questão de tempo, de treino. Quem sabe? É uma batalha um tanto solitária, mas de vez em quando, se eu me concentrar, posso ouvir as pessoas que me amam torcendo por mim e isso é ótimo. E eu sei que elas estão ao meu lado, mesmo que muitas vezes eu não as posso ver.

Aos poucos nós nos acostumamos com as coisas do jeito que elas são e eu não questiono mais porque minha vida precisa se equilibrar em uma corda tão instável. Isso não me faz mais chorar de raiva ou invejar a vida alheia, não tanto quanto antes pelo menos. Eu só sigo em frente e tento dar o melhor de mim dentro das minhas limitações e está tudo bem... Está tudo bem se para mim a vida parece um pouco mais complicada, está tudo bem se as vezes eu perco o controle, está tudo bem. Está tudo bem se as pessoas se assustam quando veem meus braços e se eu sou julgada por isso. Está tudo bem se as vezes eu caio e preciso ser internada por isso... Está tudo bem. Se apesar de tudo eu conseguir ter uma vida, está tudo bem. E eu tenho, eu tenho uma vida que continua apesar de tudo, que ainda me espera com momentos gloriosos pela frente. Então nem tudo está perdido.

Os momentos ruins passam tanto quanto os bons e é você quem escolhe qual deles será o mais importante para você mesmo. Sabe... Quando você está em um lugar alto demais e corre o risco de cair, eles falam para você não olhar para baixo, mas eu adoro olhar para baixo, adoro ver tudo o que eu estou vencendo a cada passo. E acredite, isso não é pouca coisa. Olhe para baixo. É melhor estar no alto balançando ao sabor do vento do que atolado na lama no fundo do penhasco.