"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

sábado, 6 de julho de 2013

Efeitos colaterais



Suas mãos tremiam e ela mau consegue levar o cigarro aos lábios. Estava longe de parecer bem, sentei ao seu lado e me perguntei se eu poderia fazer algo. Ela nem parecia a pessoa que eu havia aconhecido a pouco mais de um mês atrás. Ela costumava ser tão segura de si, uma mentirosa nata, mandando em todo mundo, bagunçando o psicológico de todo mundo. Agora parecia só um tênue resquício de tudo aquilo, uma carcaça.

- Você está bem?

Ela me olha com os olhos mais tristes do universo e treme tanto que eu tenho vontade de ajudá-la a levar o maldito cigarro até seus lábios.

- Não deixe eles fazerem isso comigo Sabrina.

Essas terríveis frases jogadas sem contexto, que sempre abriam janelas enormes que me permitiam pensar em coisas cada vez mais horríveis. A verdade é que eu não podia fazer nada a respeito de coisa alguma. Encarei o chão envergonhada por ter perguntado qualquer coisa, por ter me aproximado, por ter ousado pensar que talvez, só talvez ela estivesse um pouquinho melhor em algum aspecto. Todo o ódio que eu alimentei por ela desde que a conheci desapareceu tão rápido quanto surgiu. Sinto pena dela, o sentimento mais nojento que alguém pode ter por outra pessoa. Também me sinto envergonhada por me sentir assim. A questão é que era horrível ver a decadência de alguém desse jeito, tão rápido, tão brutal... Enquanto você está se levantando, ver alguém bem do seu lado se atirando em um buraco mais fundo ainda.

- Eles não vão fazer nada com você.

Não faço ideia do que falar em uma situação dessas. Me sinto uma idiota. É claro que podem fazer de tudo para tornar a vida dela um inferno maior ainda. Se é que é possível. Me pergunto quantos remédios estão dando para ela, para ela estar tremendo tanto. Ela não consegue nem comer sozinha, deveria ser um crime fazer uma pessoa tão jovem se tornar tão dependente e frágil. Deveria ser um crime prender pessoas em clínicas e deixar que elas apodreçam ali. Deveria... Encosto minha mão em seu ombro por impulso. Gostaria de abraçá-la, gostaria de demonstrar de alguma forma que eu me importo. Ela se afasta assustada. Parece uma criança. Eu coro e retiro minha mão.

- Me desculpe... Eles não vão fazer nada com você, ok?

Falo novamente, tentando convencer mais a mim mesma do que a ela. Ninguém vai fazer mais nada com a gente.

2 comentários:

Nathalia Musa disse...

:(

Ninguém vai fazer mesmo. Vamos acreditar.

Bjo!

borderline-girl.blogspot.com

Unknown disse...

Espero que sim...