"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Até a próxima Vera Cruz



Um mês e meio. Um outro universo por trás daqueles muros. Sinto como se tivesse deixado de fazer parte do mundo real, está tudo tão estranho e desconexo. Aos poucos volto e tudo me faz lembrar as tantas lágrimas que vivo derramando. Bem? Talvez menos do que eu esperava. O efeito da segunda vez nunca é eficiente e marcante tanto quanto na primeira. Aquele universo restrito, horários e olhos atentos 24 horas, remédios, consultas e terapias, rotina, regras, ordens. Eu me acostumei. Cada dia, milhões de anos, um poucos mais certo e seguros o bastante para eu me sentir confortável. Ai é onde mora o perigo. Amigos que vem e vão, amigos que te entendem como ninguém, amigos que raramente duram, mas quando duram, se tornam os melhores. A vida é bela, o paraíso é um comprimido. Tantas conversas e risadas que só a gente entende. É mais fácil lembrar de um diagnóstico do que de um nome. O esquizofrênico, o bipolar, a border, a bulímica. Por que você veio parar aqui? Eu enfiei uma faca no meu peito, fui parar três vezes no hospital em menos de uma semana, não tem nada de errado comigo, não tem nada de errado comigo. Estamos todos no mesmo barco. Os enfermeiros às vezes ignoram suas lágrimas, mas os outros pacientes nunca deixam de notá-las, nunca deixam de ouvir seus gritos, nunca deixam de te entender profundamente. Eu e você, poderia ser eu ou você, hoje sou eu, amanhã é você. Doutor, você não tem coração?

Socorro, socorro, socorro! Mãos e pés amarrados por dias a fio, uma boca que saliva e tem sede. Enfermeira eu fiz xixi na cama. Mãe eu quero ir para casa, por favor... Vem me buscar. Por favor, não me deixe presa aqui por mais um dia, uma semana, um mês. O que eu fiz de errado para merecer isso? Quando a noite cai e o ar pesa, não é difícil ouvir os gritos e ver as lágrimas que escorrem para todo o lado. Hoje é o dia de quem surtar? Estamos todos aqui, em silêncio, juntos, eu segurarei sua mão enquanto você chora, eu te abraçarei se você quiser e posso, às vezes, falar baixinho, que eu te entendo e que amanhã eu estarei chorando pelas mesmas razões, e então, será a sua vez de segurar minha mão e ver toda a minha dor, nossa dor. É tão bom ser compreendida. É tão bom... quando você pensa que não tem mais ninguém, quando você se encolhe em um canto escuro e as lágrimas não param de escorrer e você pensa... Ninguém pode me ajudar... E então alguém senta ao seu lado, e segura sua mão, às vezes pessoas que você nunca esperava. Elas entendem, de verdade, elas entendem. A tempestade vai passar, o sol vai voltar a brilhar, certo? É sempre assim, um dia ruim, um dia bom... E  a gente vai sobrevivendo aos trancos e barrancos.

Eu criei um amor enorme por todos os amigos que eu fiz na clínica. São pessoas incríveis, e espero levar essas amizades pelo resto da vida. Vou sentir falta de passar todos os dias na companhia de cada um deles. Aqui, no mundo real... É sempre um pouco solitário demais. São poucos que me entendem, poucos que me suportam, poucos. Lá não... todos no mesmo barco, abraços e mãos dadas em busca de um único objetivo. Ficar bem, custe o que custar. Até a próxima Hospital Vera Cruz.

2 comentários:

Nathalia Musa disse...

Sabrina, é bom de te ver de volta, apesar de entender o quanto deve ser difícil. Devem existir pessoas que te entendam. e se não tiver, a gente tem q aprender a se gostar. eu sei como é difícil.

Qualquer coisa, borderlineggirl@gmail.com

Adoraria conversar contigo e fazer mais uma amiga nesse mundo border.

Um abraço carinhoso de quem admira sua coragem,

Eilan

borderline-girl.blogspot.com

Unknown disse...

Olá Eilan, adoraria conversar com você, obrigada pelo apoio.

Vou te mandar um email para a gente conversar um pouquinho, adoraria fazer mais uma amiga também.

Força,
Sah.