"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

domingo, 26 de agosto de 2012

Recomeço



É tempo de começar de novo. De renovar as esperanças e retomar as forças. Ainda me sinto muito perdida e lerda. Na casa dos artistas o tempo parecia não passar, cada dia era uma eternidade de absolutamente nada. Aqui fora o tempo voa, há coisas de mais para se fazer em tempo de menos. Aqui tudo é em excesso, informação, barulho, imagens, sensações... No primeiro dia, quando voltei, quase enlouqueci ao ligar o computador e o celular. Fui bombardeada por tantas mensagens e bipes que pensei que nunca ia conseguir ver tudo o que deveria ter visto em um mês offline. Agora aos poucos estou voltando a me acostumar com essa loucura (ironia?) que é o mundo dos normais. Logo a vida que eu conheci na clínica vai se tornar distante e irreal, como sempre deveria ter sido. Não podemos nos acostumar muito a aquele universo controlado, corremos o risco de nunca mais conseguir voltar. Alguns realmente não conseguem voltar. Eu entendo essas pessoas, os viciados em internação, do mesmo jeito que entendo os internos desesperados pela liberdade. Há essas duas situações, por um lado queremos permanecer internados pois ali é um mundo pequeno e controlado, muito diferente do mundo real, enorme e assustador, ali as pessoas nos aceitam como nós somos, ali ninguém te julga pela sua "loucura", somos todos loucos, somos todos iguais, é fácil se sentir em casa, se sentir acolhido e compreendido, por outro lado, é uma prisão, parece que estão te punindo, como se você fosse um criminoso perigoso, te tirando uma quantidade enorme de direitos. O clima também é quase sempre deprimente, não é exatamente um lugar legal de se ficar, são problemas de mais reunidos em um lugar muito pequeno.

É, eu entendo os dois lados. Sofri muito lá dentro, mas também sofro muito aqui fora. De um jeito ou de outro, eu espero nunca mais cair tão fundo ao ponto de precisar de novo de uma nova internação. Eu espero que eles tenham acertado no diagnóstico dessa vez, nas medicações e em suas dosagens, para que nunca mais seja preciso aumentar nada. Espero também que meu transtorno não se desenvolva mais e que eu piore, ou que os medicamentos parem de fazer efeito com o tempo. Eu espero, enfim, que essa internação tenha sido um ponto final na minha vida, o momento em que eu deixo para trás todo o ciclo de melhoras e pioras em que eu estava presa e passe a conseguir a tão desejada estabilidade. Eu quero ficar bem e ter uma vida normal. Nem que para isso eu tenha que ficar um semestre em tratamento "intensivo". Antes da internação, eu não estava acreditando que um dia poderia ser feliz e ter uma vida normal.... Lá dentro eu vi que havia pessoas piores do que eu e que mesmo assim conseguiam ter uma vida consideravelmente "normal". Enfim, eu pude ver que havia chances para mim, que eu não era um caso perdido e que eu não estava sozinha. Estou feliz, mesmo que me sentindo muito perdida ainda. Estou esperançosa, creio que terei um período bom a frente.

Lembro de um dia em que entrei em crise dentro da casa dos artistas, em que eu chorava e perguntava para a enfermeira se eles iam conseguir consertar minha cabeça. Eu precisava saber se eles iam consertar minha cabeça, eu precisava. Ela disse que sim, que iam sim, enquanto me abraçava e tentava me consolar. Fiquei feliz de ouvir aquilo, mesmo pensando que era mentira. E eu realmente acreditei que era mentira, eu tive alta da clínica ainda acreditando que eles não iam conseguir me consertar. É engraçado. Eu me sinto consertada agora, não para sempre, mas por um tempo que creio ser suficientemente longo. É, me sinto controlada. Pelo menos por enquanto. Estou feliz. Estou um pouco assustada porque há muito, muito, muito tempo eu não me sentia bem assim sem motivo nenhum. Mas estou feliz. Creio que logo terei forças para enfrentar o mundo de novo, quem sabe voltar a estudar sem precisar trancar metade das matérias, quem sabe aulas de inglês ou francês, quem sabe.

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