"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

sábado, 23 de julho de 2011

O quanto você quer viver?


Sempre que eu começo a voltar de uma crise minha psicóloga me faz um pergunta extremamente importante, a pergunta é sempre diferente, mas no fundo, sempre igual. Dessa vez ela me perguntou o quanto eu queria viver. Assim, direta e clara. "Sabrina, o quanto você quer viver?". Me deixando meio boquiaberta, meio surpresa pela sinceridade dessa pergunta. Quase como se dissesse: Daqui em diante há dois caminhos, o pior passou, sua consciência voltou, as alucinações e crises de desrealização estão controladas, está certo que ainda tem coisas bem instáveis, o humor por exemplo, a agressividade e a angustia, mas o pior passou... Você está cansada, eu sei... Mas você quer viver? Quer recomeçar? Se você quiser eu posso te ajudar, se você não quiser, não há nada que eu possa fazer. Simples assim.

No momento tive vontade de perguntar, vontade de viver qual vida? Tenho uma vontade imensa de viver todas as vidas menos a minha, de mergulhar em um livro e ser aquele personagem, de entrar nos olhos de alguém e me tornar aquela pessoa, com aquela vida linda que ela nem percebe que tem. Vontade de viver qual vida? Uma vida onde eu seja normal? Onde esses fantasmas parem de me assombrar, a automutilação vire passado, as alucinações, crises, pânico, angustia... Tudo isso desapareça? Essa vida eu quero viver... Essa vida eu quero muito viver.

Minha psicóloga me olha paciente. Ela tem olhos bondosos e curiosos ao mesmo tempo, olhos distantes, da vida que eu sei que ela tem e a qual eu nunca terei acesso. Olhos que me dizem que eu sou alguém para ela... e ao mesmo tempo, ninguém. Mais uma louca, as vezes brinco, mais um caso complicado entre outros tantos. Um número só... se eu fosse parar em um hospital psiquiátrico. Um número, enquanto os médicos me costuram com olhos indiferentes. Um número entre as estatísticas que eu tanto pesquiso obsessivamente. 3 ou 4 entre 5 meninas. 10% das famílias. 9 entre 10 adultos com histórico. 3 crianças em uma sala de 30 alunos, se não me engano.

Borderline, borderline, borderline... Como uma sentença. Onde está a paz? Onde está a estabilidade? Onde eu estou? Quem sou eu? Entre o ódio extremo e o amor desmedido... Quem sou eu? Da autoconfiança a autodegradação. Quem sou eu? Da vítima ao agressor, da raiva devastadora ao choro incontido, infantil. A adulta e a criança. O monstro. Quem sou eu? O que é real e o que não é? O mundo, as pessoas, a vida... Eu estou viva? Quero dizer... Como você pode saber... Que isso é real? Como? Tudo parece tanto... uma mentira. Imagino que já vivi tantas mentiras, que agora o que é verdade parece falso aos meus olhos. É fácil eu andar na rua e de repente ter certeza absoluta que nada é real, eu SEI que não é real. Eu poderia me atirar na frente de um caminhão ou pular de uma ponte que eu não morreria, simplesmente porque eu já estou morta. Nesses momentos me sinto como se alguém tivesse aberto meus olhos (quando na verdade é o oposto), sinto que eu sou a única pessoa no mundo a perceber a verdade. A verdade... O que é a verdade se não um ponto de vista? Se eu fizer mau a alguém e acreditar que não fiz nada... Então eu não terei feito nada, certo? Pelo menos para mim mesma e para as pessoas que acreditarem em mim. É fácil. E é isso que importa. Quem sofreu minha agressão que se foda com a sua verdade.

Se eu quero viver? As vezes quero e as vezes não quero. É difícil querer viver quando o mundo está desmoronando a sua volta. E é fácil querer viver quando está tudo indo bem. Mas as vezes... querer viver se torna difícil em todos os momentos, porque só de imaginar como vai ser a próxima crise, até a onde você irá da próxima vez... (Porque a próxima crise vai vim, ela sempre vem.) É assustador.

Porém... Não se pode viver em função de um problema, os otimistas falam. É preciso aproveitar os dias bons e esquecer os ruins... Ah se fosse possível esquecer os ruins. Se os ruins não fossem tão devastadores, se não deixassem marcas em meu corpo e alma... Quem sabe.

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