"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Desajustados



Sempre me perguntei o que havia de errado com aquelas crianças e adolescentes que, quando eu era menor, tornaram minha vida um inferno. Talvez essa não seja a pergunta certa, a questão é o que havia de errado com os pais delas e, antes, os pais deles e assim por diante. Enfim, o que havia e há de errado com nossa sociedade inteira.

Quantas vezes eu ouvi grito daquele meu amiguinho sendo espancado pela mãe? Quantas vezes eu ouvi a mulher do apartamento de baixo gritando para seus filhos o quanto eles eram inúteis e burros? Quantas vezes eu desejei que fosse eu no lugar deles. A menina órfã de pai que destruía minha autoestima para se sentir melhor, os garotos que jogavam suas inseguranças quanto sua sexualidade nos mais fracos, o pai que ameaçava os amiguinhos do filho, os dois meninos abandonados pelo pai que precisavam bater nas outras crianças para se sentirem bem. Infinitas formas de abuso passadas de geração para geração. O garoto com dificuldade de aprendizagem, o hiperativo, o gago, o precocemente sexualizado, todos incrivelmente cruéis e incompreendidos, Todos carregando histórias terríveis nas costas.

É impressionante o número de crianças desajustadas que podemos encontrar em um único lugar, é incrível o que cada uma delas pode fazer em uma terra praticamente sem lei, sem nenhuma supervisão de um adulto ou algo que as controle. Éramos todos crianças carentes de atenção, carentes de tudo. Naquelas tardes e noites intermináveis, acredito que muitos ali se sentiam meio órfãos. Grupos eram formados e desformados, lideranças feitas a base de tapa. Os mais fracos seguiam os mais fortes em busca de proteção, em respostas, os mais fortes faziam com eles o que bem entendiam. Era assim que as coisas funcionavam. Eu sempre fui meio excluída, rejeitada tanto pelos meninos quanto pelas meninas, também por todos os mais velhos, quanto pelos mais novos...  Alguns poucos gostavam de mim e esperavam que eu os protegesse, outros me maltratavam o máximo que podiam na esperança de ganhar crédito com os mais velhos. A sensação de ser um saco de pancadas me perseguiu durante muitos anos, mas apesar de tudo eu mentiria se dissesse que odeio qualquer uma dessas crianças e adolescentes com os quais eu dividi momentos tão intensos, quer seja para o bem, quer seja para o mau... A verdade é que, por um motivo que eu não entendo, eu olho com carinho para eles quando penso no passado, por mais que muitas lembranças me atormente de forma insuportável as vezes. Acho que apesar de ser rejeitada e excluída por muitas pessoas ali, eu me sentia parte de algo. Querendo ou não aquilo foi a minha casa e eles, minha família.

As memórias dessa época são as que permanecem mais vivas na minha mente, tanto boa quanto horríveis. Foi, com toda a certeza, a época mais marcante da minha vida. Ainda hoje me pergunto onde cada um de vocês está, o que fizeram de suas vidas, se superaram seus traumas e dificuldades ou não. Será que suas vidas se tornaram mais fáceis? Será que ainda escondem seus medos atrás da agressividade e outros vícios? Será que vocês repetirão os mesmos erros de seus pais quando for a vez de vocês terem filhos? Se pelo menos um de nós tiver aprendido alguma coisa com tudo o que vimos e vivemos e conseguir mudar o curso dessa história repetitiva, ao menos para mim, em nome do sorriso de uma criança no futuro, terá valido a pena todas as lágrimas que derramei.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Minha psicóloga me perguntou como eu me vejo no futuro



É difícil me imaginar no futuro, não possuo mais grandes sonhos, se é que um dia os tive. Me sinto estranha em relação a vida, cada dia é um universo inteiro, cada sentimento controlado de forma incerta, escolhas forçadas, dramas diários ocupando toda minha mente. Como posso pensar no futuro? Como posso traçar planos frente tanta insegurança? Não suporto a dor de ter minhas esperanças arrancadas de mim sempre de forma tão bruta. Então simplesmente não tenho esperanças, sonhos, planos, coisa alguma. É mais seguro.

Eu trabalho com o pior, ando de mão dada com a morte, porque isso é, do que pode me acontecer, a "pior" das hipóteses, todo o resto é lucro. Levantar da cama de manhã é lucro, deitar de noite sabendo que eu suportei mais um dia é lucro, tudo é lucro. Mas não me sinto mau vivendo assim, pelo menos não por enquanto, sempre acabo tendo muito mais sorte do que poderia imaginar, sempre acabo sorrindo de um jeito ou de outro. Talvez esse seja meu jeito de viver, talvez eu seja assim. Talvez eu não deva exigir de mim mesma ser menos isso ou aquilo, ou ser mais isso ou aquilo. Eu sempre sofro muito, é verdade, exagero tudo, sinto de mais, mas seja como for, a vida continua. Meus braços sempre sangram, mas as feridas fecham, as vezes tenho sonhos ruins, mas são só sonhos, as vezes meu peito dói, mas as batidas sem ritmo do meu coração nunca param. Eu sou assim, sempre penso ao contrário, sempre tenho medo, sempre dói, mas e daí? São só defeitos um pouco mais exagerados do que deveriam ser, tudo bem. Talvez meu grande problema seja exigir de mais de mim mesma. Quem sabe?

Eu entendo porque você precisa saber como eu me vejo no futuro. Suicidas são pessoas que perderam a esperança no futuro, não possuem mais sonhos ou razão alguma para viver. Você precisa saber o quão mal ou bem eu estou, a partir dessa resposta e de outras. Eu não tenho grandes esperanças no futuro, também não tenho sonhos ou uma boa razão para viver... Porém no momento não penso em me matar, na verdade não estou pensando em coisa alguma que envolva grandes decisões, estou só existindo. Seguindo o curso das águas para ver onde elas me levarão. Me sinto sem energias ou vontade para me mexer. Enquanto a vida estiver suportável como agora, tudo bem. Suicídio é uma medida de emergência, não se preocupe, estou bem, apesar de não conseguir responder essa pergunta de forma satisfatória.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Mergulhando fundo



Minha cabeça sofre para entender. Quem liga? Tem cheiro de algo novo no ar, alguém pode sentir? O que houve? Passou um furacão, destruiu tudo, mas logo algo novo se pôs a crescer, algo realmente novo. Como nomear esse sentimento? Como explicar? Como entender? É algo diferente, algo... tão livre de qualquer sofrimento que chega a ser assustador para alguém tão masoquista como eu. Estou sem palavras, há dias procuro uma música que descreva como eu me sinto, mas simplesmente não consigo achar. Estou confusa, não sei como reagir a tudo isso, é difícil não se fechar, é difícil me deixar levar, é difícil para minha mente ver como legítimo o que eu tanto sismo em sentir. Tantas coisas para se conversar, para se descobrir, para se fazer. Foram poucos dias, meses em minha cabeça, o tempo voa, o tempo para. Te olho tentando passar pelos seus olhinhos cor de mel, adivinhar seus sentimentos, seus pensamentos, seu universo inteiro. Seu sorriso tão indescritível. Quem é você? Me pergunto se para você também é tão difícil me entender. Deixe o tempo explicar, deixe o tempo responder, deixe com que o tempo nos acostume e realize tudo o que sonhamos a vida inteira e nunca encontramos alguém que achasse tão importante riscar os sonhos realizados da tal lista. Eu fiz alguém sorrir, você fez alguém sorrir. Isso já é muito. Isso foi o resultado da sua busca, de seus olhos atentos e coragem, isso foi um milagre pouco provável. E só por ter acontecido já valeu a pena.

Mas tenho medo, quem não tem? Meu coração dói as vezes. Podemos congelar o tempo agora? Podemos avançar para daqui a alguns meses? O que fazer, como agir, o que falar. Quero te inserir em meu mundo, te trazer para perto, te fazer companhia, tantas coisas. Mas as pessoas vão embora, elas sempre vão, tenho medo. Mas quem não tem afinal? Como confiar? Como acreditar? Como? Eu perco meu tento trançando palavras, parágrafos, textos, na esperança de assim organizar minha mente, tornar tudo coerente por assim dizer. É inútil, nada faz sentido, nada se explica. Ninguém perde tempo se perguntando o significado das coisas, eles simplesmente sentem e acreditam sentir aquilo que eles dizem sentir, sem grande filosofias envolvidas nesse processo, sem grandes questionamentos ou o que quer que seja. Estou precisando de uma dose disse, despreocupação, ignorância, seja lá como isso se chame. É preciso desligar a mente de vez em quando, minha impulsividade já foi responsável pelos meus piores erros, mas não posso desmerecer o fato dela também já ter sido responsável pelos meus acertos mais incríveis. O que é bom e o que é ruim é relativo, qualidades e defeitos se misturam e quem sou eu, quem é você, para nomear cada um deles? Julgar cada um deles. É tempo de mudar, apesar de eu não gostar muito da palavra "mudar" quando direcionada a mim mesma porque o meu problema é justamente o fato de eu não parar de mudar o tempo inteiro. Mas o que eu quero dizer é que é tempo de virar o jogo, de fazer diferente, ver diferente, interpretar tudo diferente.

Uma chance como essa não acontece duas vezes em uma vida. Não devemos jogar fora o que caiu do céu para nós. Não se recusa presentes. Eu só preciso fechar os olhos por um momento e mergulhar, como eu sempre fiz, inconsequente, impulsiva, tanto faz. Só mergulhar.

Melodia e desenhos.



Lá está ela. Sentada em seu canto desenhando seus desenhos assustadores enquanto permanece cantarolando a mesma música dia após dia. Clara não era como as outras crianças da escolinha, a professora notara rapidamente que havia algo de errado com ela, ninguém sabia o que, mas que havia algo de estranho, havia. Clara chegava todos os dias na mesma hora, dez minutos antes do horário da aula começar, sentava em sua mesa no fundo da sala, puxava seu bloco de desenhos e com um sorriso vazio no rosto, se punha a desenhar até a hora de ir embora. E claro, sempre cantarolando baixinho a mesma melodia. Ela tinha 5 anos e um grau de socialização mínimo, apesar de não apresentar nenhum retardo mental ou de desenvolvimento. Clara era inteligente quando solicitada para responder alguma coisa, falava bem e de forma totalmente coerente, também já sabia ler e escrever, a primeira criança da sala a aprender. Mas havia algo de errado, a professora tinha certeza. Mas o que?

Naquela manhã a professora esperou que Clara chegasse no seu horário de sempre para tentar, antes da aula começar, estabelecer alguma conexão com a garota, sempre tão distante e quieta. Nunca prestara muita atenção em quem trazia a criança para a escola, mas nesse dia notou que a menina não vinha de mão dada com quem a trazia como normalmente as crianças apareciam por lá, ela vinha logo atrás, mantendo uma certa distância, olhando para o chão, corpo rígido. A mulher que vinha logo a frente dela, que deveria ser sua mãe, parecia confiante, nariz apontado para cima, andar totalmente equilibrado em seus saltos altíssimos, roupa perfeita, tudo perfeito. Clara entrou na sala como sempre, sem dar atenção para a professora ou para qualquer outra coisa, não demorou muito para que a sala vazia se enchesse com o cantarolar baixinho da menina que já desenhava em seu lugar. A professora se aproximou, fingindo interesse no desenho que ela rabiscava de forma violenta no papel (ela nunca tinha notado que a garotinha desenhava com tanta violência assim), tratava-se de monstros, como sempre, pessoas deformadas e outras coisas medonhas.

- Oi Clara... - disse ela se agachando ao lado da menina, tentando ignorar o fato da garotinha ter se afastado ligeiramente para o lado como se temesse o contato físico com a professora (talvez não só com a professora) - O que você tanto desenha?

- Minha família, meus sonhos, coisas que enchem minha cabeça. - disse a garota baixinho sem desviar os olhos do papel.

- Entendo... Parece que você gosta mesmo de desenhar!

Clara não pareceu feliz com a afirmação, mas permaneceu quieta.

- Uhm... E a música que você gosta tanto de cantarolar? Ela é muito bonita! Onde você a ouviu?

- Papai canta para mim, toda a noite.

A professora mau tinha entendido a resposta quando foi surpreendida com o som das outras crianças entrando na sala. Pensou em perguntar mais alguma coisa, mas achou melhor deixar para o outro dia, se as outras crianças vissem ela falando dessa forma com a Clara talvez elas pensassem que a garota estava recebendo um tratamento especial, o que não seria bom. Naquela noite a professora não conseguiu dormir devido a melodia que tanto a Clara cantarolava, ficou a noite inteira se perguntando porque diabos um pai cantaria tanto a mesma música a ponto dela se transformar praticamente em uma tortura. Obviamente que, da mesma forma que a música grudou de forma insuportável na mente da professora, isso também acontecia, de forma mais intensa, na mente da menina. No dia seguinte a professora tentou novamente conversar com Clara, porém dessa vez a menina estava mais esquiva do que o normal, mau respondia as perguntas e quando o fazia, o fazia utilizando monossílabas. Dia após dia a professora tentava, porém, quanto mais tentava menos progresso obtinha. Clara, antes escondida atrás de seu sorriso vazio, começou a se mostrar extremamente agressiva, inquieta, chorona. Seu progresso na escola estacionou e as poucas habilidades sociais que possuía desapareceram. A professora tentou lidar com a situação o máximo que pode, tentou ajudar a garota o máximo que pode, mas Clara simplesmente não queria colaborar, ou não podia colaborar.

A gota d'água foi um dia em que Clara estava especialmente quieta, não havia tido nenhum ataque de raiva até o momento e a professora estava começando a desconfiar da tranquilidade rara da menina. Foi só quando se aproximou da menina que percebeu o motivo dela estar tão quieta. A garota olhava a palma da própria mão ensanguentada, enquanto a outra segurava um caco de vidro encontrado sabe-se lá onde. Era demais para uma professorinha qualquer como ela aguentar. Clara foi mandada para uma escola especial. Havia algo de errado naquela garota, ela sempre soube.

- Clara, existe algum segredo que você queira me contar?

- Ele sempre canta essa música para mim. - Ela sussurrava, como se guardasse todos os segredos do mundo por trás dessa simples frase.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Por que não?



Fim? Quem falou em fim? Não, não! Começo, começos, surpresas, sorrisos novos, sentimentos novos, outro sentido. Tudo confuso em minha mente, perguntas sem respostas, respostas para perguntas nunca feitas. O que está acontecendo? Onde estou? Quem é você? Seu sorriso... Seu toque macio. Então quer dizer que existe vida depois de tudo aquilo? Quer dizer que o Sol ainda brilha? Então quer dizer que eu posso sorrir de novo? Então quer dizer que tudo vai ficar bem? Então quer dizer que eu posso segurar sua mão sem medo? De onde você veio? Por que me balançou tanto assim? Isso está certo? É isso mesmo? Dou um passo para atrás apreensiva, mas você dá dois para frente, sem medo, sem vergonha, sem nada. Com absolutamente tudo. As coisas seguem seu curso sem esforço, tudo se encaixa, tudo se explica e termina em si mesmo. Tenho medo, tenho medo porque me sinto bem, me sinto bem demais. Sou tão acostumada à sofrer, sou tão acostumada às lágrimas, às decepções, aos desencontros e ai está você sorrindo, como se sempre estivesse bem ai. Estranho, estranho, minha cabeça ainda não digeriu, como você pode ter caído do céu desse jeito?

É engraçado como as coisas acontecem, como as vezes parece que tem alguém controlando todos os acontecimentos a sua volta para te levar a uma conclusão inacreditável. Minha mente pessimista grita falando que algo ainda vai dar errado, não é possível... Mas quer saber de uma coisa? Eu realmente não tenho nada a perder. Por que não? Porque não deixar as coisas acontecerem? Porque não relaxar um pouco? Porque não tentar ser um pouco menos racional e deixar que os sentimentos fluam? Da última vez que eu perguntei para mim mesma "por que não?" eu vivi os melhores dias da minha vida até agora. É uma questão de dar uma chance para si mesma, uma chance de fazer diferente, de mudar. E há muito tempo eu preciso disso.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Procura-se



Não é algo bonito, não de aparência, pois não tem forma, cor ou cheiro, só sabe-se que não é bonito por se sentir. Sua presença, sua áurea. Só sabe-se, sem explicação. Procuro por isso, assim como muitas pessoas procuram pela felicidade, realização profissional, um amor ou qualquer idiotice do tipo. Minha idiotice, pela qual eu busco, é essa coisa sem nome, difícil de explicar, mais ainda de acreditar que ainda exista. Mas permaneço procurando, quem sabe um dia alguém cruze com ela na rua e se lembre de mim, quem sabe. É algo relativamente grande, imagino, pois tudo aqui sem essa coisa permanece muito vazio. Transparente provavelmente, porque ninguém nunca viu; ou então, seja lá o que for, tem um jeito de se esconder muito bom. Frágil, sensível, pois lembro de se tornar facilmente quebradiço a cada pequeno empurrão que a vida me dava, ou melhor, as pessoas em minha vida me davam.

Há muito está perdido. Ando procurando-o por toda a parte e quando penso encontrá-lo, logo foge novamente. Não entendo o que ele tanto tem contra mim. As coisas não são mais como antes, quero dizer, hoje sou grande, não quebram meu coração com tanta frequência como quando eu era criança, hoje não sou completamente inútil e indefesa. No entanto, ele não confia em mim, não gosta de mim, me quer o mais longe possível. Essa é a única explicação... Ele não confia em mim e nunca vai confiar.

Apesar que... Se pensarmos bem, pode ser que ele esteja comigo o tempo inteiro, o problema é que a cada vez que alguém que eu amo ou amava quebra meu coração, parte dele se vai junto com essa pessoa. Como uma pequena lembrança. Ei, você fez parte de minha vida e sempre vai fazer, pois as cicatrizes que você causou em mim vão permanecer bem vivas e protuberantes aqui dentro. Eu sou tudo o que fizeram comigo, seja para o bem, seja para o mau e o que eu fiz com isso que me fizeram. Mas com tudo isso, ele, essa coisa que faz tanta falta em mim, está tão pequena aqui dentro que eu mau o sinto. Penso que fugiu de mim, mas na verdade fui eu que o distribui para cada pessoa que um dia me fez chorar. Assim fácil, como se não fosse nada.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Fim e nadas.




Vazio, oco, incompleto. Horas oscilando entre dor e nada, nada e dor.  Palavras fracas voltando como sussurros à mente. Não consigo pensar em absolutamente nada, mesmo enquanto escrevo. Tudo vem sem critica, sem reconhecimento, sem nada.  Gostaria que meu cérebro funcionasse, que eu tentasse te entender ou se quer reconhecer algum sentimento sem ser a dor. Nada. Meu corpo dói, minha cabeça dói, meus braços, minha alma, tudo. Como vai ser amanhã? E depois, e depois...  Não quero que o mundo continue, preciso de uma pausa, preciso respirar, preciso entender, preciso aprender a sobreviver. Ninguém para, nada para, tenho tantas coisas para fazer que entro em pânico só de pensar, como posso aguentar? Como posso simplesmente levantar da cama de manhã e sobreviver o dia inteiro como se nada tivesse acontecido? Eu não aguento mais, essa sensação, essa dor, esse nó preso na garganta, essa vontade de acabar com tudo. Não gosto de despedidas, não gosto de ser deixada para trás, não gosto do fato de ninguém durar muito tempo ao meu lado, nem amigos, conhecidos, ninguém. Estou o tempo inteiro me perguntando o que eu fiz de errado, o que eu sempre faço de errado. O que posso fazer? Por favor, qualquer coisa para isso passar, por favor.

Todos estão sempre perdendo tempo me dizendo que eu posso ligar quando precisar, que eu devo pedir ajuda, aquele papo de que todos estão sempre aqui... Você se tornou só mais um deles. Eu não quero uma promessa de ajuda, eu não quero essas palavras, eu não quero ter que ligar para lembrar você que eu existo e preciso de você, não quero. Eu quero sentir que existe alguém do meu lado o tempo inteiro independente de qualquer coisa, eu quero diminuir o máximo possível o número das despedidas, eu quero alguém fisicamente do meu lado, eu quero um abraço, alguma coisa que me diga que eu sou especial para alguém. Eu preciso disso. Eu não vou ligar, quem me conhece sabe que eu nunca ligo, não importa o quão desesperada eu esteja. Não consigo ligar. Acho que não confio nas pessoas para pedir ajuda, por isso não consigo ligar ou tentar pedir ajuda de qualquer outra forma. Não acho que elas consigam me ajudar. De uma forma ou de outra, você era diferente para mim. Eu não pedia sua ajuda, você era a razão para eu querer ajudar a mim mesma, acho que você não entende isso. Agora não tenho mais razão para me ajudar... Você não entende. Você fala que sempre estará ao meu lado como amiga, isso não é o suficiente para mim, você não entende. Eu não confio em amigo nenhum como eu confiava em você, eu nunca lutei por amigo nenhum como eu lutei por você, nunca ninguém me fez mais feliz, eu nunca senti tudo isso por alguém, não nessa intensidade. Você não é minha amiga. Você é qualquer coisa maior que isso, mas não uma simples amiga. Você falar para mim que seremos amigas é quase a mesma coisa que você falar que não será ninguém para mim, ou no máximo, nada mais do que qualquer outra pessoa.

Foi uma despedida... Podemos ser amigas se você quiser, mas não vai demorar muito para você perceber que isso não será nem uma sombra da relação que tivemos. Bom... Parece que estou eu comigo mesma de novo. Eu deveria imaginar que no fim eu sempre acabaria exatamente dessa forma, já aconteceu vezes o suficiente para eu me acostumar. No entanto, a cada pessoa que eu perco , quer seja definitivamente, quer seja temporariamente, eu sinto como se alguém tivesse arrancado meu coração do meu peito a sangue frio. No momento eu me sinto consideravelmente pior do que isso. Preciso colocar esses sentimentos para fora, mas ainda mal consegui digerir tudo isso.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Realidade inventada



Tudo. Indo e vindo, seguindo o ritmo das pontadas insuportáveis em sua cabeça. Ela sentia como se seu cérebro fosse grande de mais para caber em seu cranio. Segurava a cabeça com as mãos, os olhos fechados com força  e o ranger dos dentes inevitável. Tudo vem e vai em fleches, com tanta intensidade que ela mal consegue reconhecer o que acontece dentro de sua mente e o que acontece na vida real. Aparece um quarto escuro, seu quarto? O quarto de outra pessoa, difícil dizer. 25 anos? 5? Indo contra sua dor de cabeça insuportável, Clara abriu os olhos e olhou para suas mãos, só para entrar em pânico ao perceber que elas mudavam de tamanho diante de seus olhos, fechou-os novamente, mas a sensação de que seu corpo mudava de tamanho permaneceu. De repente não só seu corpo mudava de tamanho como também tudo a sua volta. Vieram as vozes, altas e claras. Você vai morrer. Você não vai suportar. Você sabe do que estamos falando. Se mate, se mate, se mate. Clara há muito tempo já era uma adulta, mas nessas horas parecia mais infantil do que uma criancinha de 5 anos, deitada em sua cama, apertando a própria cabeça com as mãos e chorando. Todos temos nossas fraquezas, mas alguns sabem lidar melhor com elas do que outros. Ela não sabia lidar muito bem com nada.

Não acreditava nessa história de que as coisas que passamos quando criança molda nossa personalidade, junto com nossa educação, ambiente, etc. Clara não se lembrava de ter passado por nada de mais, era uma criança como outra qualquer. Seus pais viviam juntos como um casal perfeito, ela tinha um irmão mais velho que nunca brigava com ela e avós atenciosos. No entanto, essas crises a perseguiam desde quando ela conseguia se lembrar. Quando pequena ela costumava ter medo de abrir os olhos quando amanhecia porque a luz poderia fazer com que seu cérebro explodisse a qualquer momento. Há coisas sem explicação, ela imaginava. Alguns tem gastrite, uns roem a unha, outros tem dor de cabeça, ela possuía tudo isso. E de volta, mais uma pontada. Ela se curvou sobre o próprio corpo, prendendo o ar, esperando que a dor amenizasse por alguns instantes até a próxima pontada. O pior, as vezes, nem era a dor pura e simplesmente, mas as imagens que invadiam sua mente a confundiam. Nessas imagens ela via a vida inteira de uma garotinha, que nascera com um certo atraso mental e crescera em uma família totalmente destruída afetivamente. A cada pontada, ela ouvia os gritos da garota que apanhava e era abusada de todas as formas imagináveis, cercada por pessoas sem coração, insensíveis que não a consideravam se quer como ser humano.

Clara agradecia todos os dias por não ser essa garotinha, por ter 25 e ter se formado como advogada com louvor. Ter crises de dor de cabeça como as que ela tinha eram, de longe, infinitas vezes melhor do que ser aquela garotinha que teimava em voltar em sua mente. Enquanto sua cabeça explodia ela observou a garota crescer e ser abandonada em uma instituição psiquiátrica, depois de sua primeira tentativa de suicídio. Abriu os olhos com o barulho da enfermeira entrando no quarto com seus remédios, mal conseguia mexer os braços devido as atadoras e menos ainda o corpo devido a enxaqueca, porém levantou a cabeça perguntando se ela tinha algo para dor de cabeça, em silêncio a enfermeira serviu os remédio e foi embora. Fechou os olhos novamente, se rendendo a uma nova pontada, era uma sorte ela não ser Clara.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Continue



Continue escrevendo, continue escrevendo. Mantenha as mãos ocupada com o teclado, com o piano, com um lápis, com qualquer coisa. Não precisa ser bonito, não precisa ser perfeito, só vomite e continue vomitando. Nós estamos aqui, nós estamos aqui. Eu simplesmente não consigo me lembrar de um único nome quando a dor se torna insuportável, eu entendo que minha preocupação não é o bastante para você, a preocupação de ninguém é o bastante para mim, mas eu tento fingir que essas palavras ajudam, tento fingir que a preocupação e apoio dos outros são o bastante quando na realidade de pouco adiantam. Eu entendo, mas as lágrimas continuam caindo. Eu não quero que ninguém sinta isso, ninguém deveria sentir isso.

Não sei o que fazer, não sei o que fazer. Preciso de direção, preciso de ajuda. Quando eu me sinto perdida desse jeito e tão difícil não me cortar, tão difícil não ver isso como uma solução. Um pequeno deslize, nada de mais, a calma se espalha pelas minhas veias como uma droga. O que posso fazer? Todos desaparecem rápido demais, eu não posso te ajudar, você nem ao menos quer minha ajuda. Não há nada que eu possa fazer. Tudo bem, continue pedindo desculpas, todo mundo sabe que isso vai acontecer de novo como sempre, mas vou continuar feliz enquanto nada acontecer de novo. Na verdade, enquanto os remédios estiverem me controlando bem, sou uma pessoa fácil de se lidar, ao menos é a impressão que fica comigo. Mas talvez eu não seja, não sei. De um jeito ou de outro, me sinto uma inútil, como um brinquedo, é tão fácil para qualquer pessoa fazer o que bem entende comigo, me tratar como bem entende também. Estou cansada, sempre cansada. Eu deveria parar de acreditar nas pessoas, de deixar que elas se aproximem de mim. Não sei dizer se sou eu que sou perigosa para elas, ou se são elas que são perigosas para mim, talvez um pouco das duas coisas.

Está tudo fora de controle e eu não sei se estou fazendo as melhores escolhas. Gostaria só que me deixassem em paz às vezes, que permitissem que eu me destruísse como eu bem entendo. Meus erros são maiores dos que os de todo mundo, minhas fraquezas e meus defeitos. Dessa forma não tenho direito de ser um ser humano, de errar ou o que quer que seja. Recebo patadas em resposta aos meus esforços, tudo bem, sempre foi assim. Só que eu nunca espero que seja dessa ou daquela pessoa que eu gosto. Sempre me decepciono. Tudo bem, é fácil para eles esquecerem seus próprios erros, quem se importa. Podemos esquecer? Claro... Claro que podemos esquecer... Podemos ir colocando tudo no fundinho da nossa mente, como eu sempre fiz, e um dia podemos explodir de uma forma irreparável por isso. É isso que você quer? Certo. Vamos fugir, vamos fugir, é o mais fácil a se fazer, é o que você quer. Ok, eu só quero conseguir te fazer feliz, não deveria ser tão difícil.

O que é um relacionamento afinal?



Não sei o que você quer, o que você pensa, o que você escolheu, ou quais são seus planos confusos e líquidos. Eu permaneço aqui te observando, as vezes distante, as vezes próxima. E te esperando, todos os dias, como se minha vida não existisse mais sem a sua. Como se todo o tempo que eu passasse sem você fosse algo a parte ou um caminho necessário que eu infelizmente tenho que passar para chegar a minha vida "real" que é ao seu lado. E no entanto... Por mais que eu observe, por mais que eu pense e as vezes consiga chegar a uma possível resposta, você me confunde. Não sei o que eu realmente significo para você, não sei quais são seus sentimentos, e o que você pode fazer no próximo momento. É tudo confuso, instável. E quando eu penso que tudo vai bem, algo despenca não sei da onde e você não está feliz por algum motivo que eu não consigo descobrir, ou será que é só minha imaginação? Eu não sei. Algo me incomoda por pensar que você está incomodada, mas não consigo formular perguntas para coisas tão... irreais? Imperceptíveis? Pequenas? Não sei dizer. Assim não conversamos sobre esses pequenos momentos em que minha respiração para e meu coração dispara como se eu tivesse perdido algo vital para minha existência, assim, do nada.

Me sinto insegura constantemente, além do meu nervosismo previsível. Acho que não estou sendo boa o bastante, tenho certeza na verdade. Isso machuca. Você passa o tempo inteiro analisando seus comportamentos, suas roupas, seu corpo, o jeito que você fala, o que você demonstra, como demonstra, tudo, absolutamente tudo e tentando conciliar isso com seus sentimentos malucos, em uma dança impossível e sem ritmo. Não dá certo. Você faz promessas consigo mesma, para melhorar, sempre melhorar, fazer do outro o mais feliz possível. Mas e você? Você também tem necessidades que entram em conflito com o ideal que você criou de você mesmo e o que você acha que os outros querem de você. É uma guerra constante, perdida já antes de sequer existir. Você nunca vai conseguir, eu nunca vou conseguir. Sinto que falta algo, como sempre. Mas dessa vez não para mim, falta algo para você, certo? Algo que eu não tenho, que eu não posso te dar. É o que eu sinto quando você age dessa forma, quando fala desse jeito. Tem algo faltando, e a medida que o tempo passa você parece se tornar mais... amarga? Como se eu tivesse te roubado algo. Sua liberdade talvez? Sua pseudo-liberdade? Não sei. O jeito que você fala. Como se eu te devesse algo. Como se você estivesse o tempo inteiro me fazendo favores.

O que é um relacionamento afinal. Duas pessoas em um ringue, punhos em posição de luta, rodando sem nunca se acertarem, há tanto tempo que a luta se confunde com uma dança e ninguém mais lembra qual o motivo dessas duas pessoas estarem em tal situação. Elas simplesmente estão. Não existe vida além dessa, o que muda são as pessoas, que as vezes somem, as vezes trocam os lugares, só isso. Alguns lutam sozinhos também, mas sempre lutando. O que há de errado? Quando duas pessoas decidem entrar nessa, nenhuma delas está fazendo um favor, trata-se de algo natural. No entanto eu continuo sentindo que te devo algo. Ou que você pensa que eu te devo algo. Por que? Não consigo deixar de pensar que se fosse boa o bastante você não faria isso ou se sentiria dessa forma. Há algo de errado, não? Minha cabeça dói de tanto pensar e me preocupar com tudo isso. Deveria ser algo natural, deveria ser leve, mas não consigo. Me irrita e machuca o fato de não ter segurança nenhuma por sua parte, o fato de o que você fala hoje não ter validade nenhuma amanhã. Eu não sei mais o que fazer, você reclama, fala que eu preciso te dar segurança, estou tentando, mas você simplesmente não liga, você continua agindo como se eu não fizesse parte significativa da sua vida. De repente, aos meus olhos, está tudo tão errado.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Sara



Sob seus pés, seu destino. Em seu coração a paz de quem já não luta e na cabeça todos os medos ausentes de tanto sentir. Tudo termina, mas nem sempre em seu tempo certo. Tempo certo? Quem julga quando as coisas devem terminar ou não? A dor de quem assiste nunca se compara a dor de quem sente na pele. Talvez o personagem principal não tenha os poderes em mãos para gritar basta quando estiver em seu limite, mas com certeza ele tem o mínimo de consciência para perceber que algo vai errado. Mas e então? Quem vai gritar basta para ele? Quando sua voz falhar e suas forças acabarem, quem estará lá? Sara sabia há muito tempo que ninguém nunca aparecia. Ela, parada ali, sentindo o vento bagunçando seus cabelos mal cortados e levantando sua saia, tinha certeza que há muito aquilo deveria ter terminado, mas não terminava. Dia após dia, a mesma coisa, 16 anos exatamente iguais. Aquilo nunca terminaria.

Desde pequena Sara ouvia de seu avô (que nada sabia de toda aquela situação que ela se encontrava) que existiam duas regras essenciais para se viver bem: Saber esperar e saber agir. Há pessoas que agem demais e esperam de menos, há pessoas que esperam demais e se esquecem de agir. O segredo estava no equilíbrio. Sara passara a vida inteira esperando aquele algo que ela não poderia explicar acontecer, esperando alguém aparecer, alguma coisa mudar, qualquer coisa, mas o tempo de esperar havia terminado, era hora de agir, finalmente. Ela se sentia melhor do que nunca, com a vida passando diante de seus olhos e a certeza de que nenhuma daquelas cenas voltariam para assombrá-la. O vento era bom, o Sol queimando seus braços pálidos sem que ela se desse conta. Tudo era lindo e perfeito daquele ponto de vista. Nada mais doía, nem tapas, nem gritos, socos, lágrimas, nada.

Toda aquela sujeira, Sara sorria, escorrendo pelo seu corpo afora. Carícias aos avessos, palavras sussurradas, ameaças. Nunca mais, nunca mais. Sara não sabe o que significa amor, não tem importância. Amor? Nunca vi, nunca senti, só ouvi falar, certo? Mentiras, um sonho, pesadelos. Nunca mais. Me deixe em paz. Uma multidão de pessoas vazias, uma multidão de vazios, nenhuma pessoa. Sara se esconde, mas nunca mais. Sara mente, mas nunca mais. Sara apanhou tanto que foi diagnosticada como doente mental, nunca mais. Ela já fez muitas coisas ruins, mas nunca mais precisaria fazer nada.

Agora tudo estava bem, em seu devido lugar, o vento brincava com sua pele e ela sentia que finalmente tinha o controle de sua vida em mãos. Sara pulou da ponte. E se seu destino foi um lugar pior do que aquele, tanto faz, ela havia agido e isso, ao menos para ela, a tornava livre para sempre.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Mais um ano, mais um ano.



O ano começou e eu nem senti. É incrível como um único dia parece apagar na cabeça das pessoas todos os acontecimentos ruins do ano e renovar totalmente as energias para o novo que está por vir. Só um dia, nada de especial, nada. Todas as mensagens de esperanças e felicidades, igualmente, igualmente. Nenhum sentimento, nada. Não recarreguei as baterias, o tempo passa correndo, mal posso vê-lo, correndo e correndo, estou toda hora sobrecarregada, em plenas férias, toda hora nervosa, tensa, tantas coisas para fazer, tantas preocupações, tantos problemas. Pelo amor de deus, nem vivi tempo suficiente para ficar tão chata com tudo. Mais um ano, mais um ano. Sinto como se tivesse 90 anos, mal aguento levantar da cama sabendo tudo o que me espera ao pisar os pés no chão. As coisas não deveriam ser tão difíceis, mas não me lembro de viver época fácil alguma. Talvez eu só reclame demais, como meus amigos vivem me falando. Eu realmente pareço uma velha. Eu deveria ser que nem aquelas pessoas idiotas na televisão que só sorriem e pensam de forma irritantemente positiva, aquelas que mega superam os problemas e todo aquele blá-blá-blá. Quando essas coisas de superação passam na TV e eu tenho o azar de estar por perto, minha mãe olha para mim e fala: "Está vendo! Isso sim é ter problemas!". As vezes acho que ou minha mãe esquece minhas crises malucas, minhas idas no hospital e os trocentos remédios que eu tomo, ou então ela deve estar se acostumando e achando tudo normal... Mas de um jeito ou de outro eu deveria superar tudo, absolutamente tudo, encontrando Deus ou qualquer outra mentira ou droga aceitável pela sociedade e sorrir o tempo inteiro. Óbvio, sou um completo fracasso por não conseguir isso, que pena.

Nem sei dizer se esse ano foi bom ou ruim. Dentro do consultório da minha psicóloga, analisando tudo detalhadamente e fazendo um balanço, chegamos a conclusão que o ano foi bom, ou pelo menos fechou bem, porque tivemos uns buracos feios no meio dele, mas pensando agora, mau consigo me lembrar das coisas boas que consegui me lembrar com minha psicóloga. Minha cabeça definitivamente tem problemas para funcionar sozinha, parece que ela trava, eu paro de funcionar, fico andando em círculos como uma idiota, reclamando o tempo inteiro, como agora. Tudo bem, é só mais essa semana, depois as consultas voltam. Enquanto as pessoas fazem planos e promessas positivas nesse começo de ano, eu só pensando onde diabos eu vou parar dessa vez, planos? Fica difícil traçá-los quando minha maior preocupação é simplesmente não cair, até porque para não cair eu preciso fazer uma porção de coisas da forma mais perfeita possível (porque meu cérebro é exigente demais, a Sabrina PRECISA ser perfeita, coisa irritante). As vezes eu me vejo como uma criança retardada, quero dizer, uma parte de mim como uma criança retardada e a outra parte precisa ficar o tempo inteiro cuidando dela, o tempo inteiro, eu vivo para salvar essa criança, todos os meus esforços giram em torno disso, para que ela cresça, para que ela fale, ande, consiga viver sozinha, qualquer coisa, isso é extremamente cansativo. Tenho vontade de matá-la as vezes, isso está soando meio esquizofrênico, mas foda-se, enfim... De alguma forma destruir tudo o que ela é e o que faz com que ela seja assim, tudo. Se fosse possível separar a área "doente" do meu cérebro e a área saudável, eu jogaria uma bomba no lado ruim e pronto. Ei medicina, descubra como se faz isso, obrigada.

Mais um ano, mais um ano. Quantas coisas ruins me esperam, quantas decepções, brigas, desentendimentos, frustrações... Eu preciso mudar, sei que preciso, preciso melhorar tantas coisas. Mas me sinto desanimada de mais para prometer para mim mesma qualquer coisa. Já prometi parar de me cortar tantas vezes, e todas elas eu descumpri, deplorável. Falando nisso... Acabei de lembrar que minha psicóloga disse que muitas pessoas andam postando coisas sobre cutting na internet, muitos adolescentes e pré-adolescentes entrando nessa, ao que parece. Um recadinho: Ei crianças, não façam isso se não vocês vão acabar cortadas que nem um presunto e reclamando que nem um velho aos 19 anos. Nossa, acho que esse é o post de início de ano mais deprimente que alguém já vez. De um jeito ou de outro, começou de novo, acho que consigo sobreviver, sempre dou um jeito. Incrível a capacidade humana de continuar, sou a prova viva disso, tudo contra, nem eu mais querendo andar para frente e minhas pernas continuam, não sei como, não sei porque, eu só continuo, fiz isso minha vida inteira. Um tapa? Ok. Um soco? Ok. Um arrancar de um infância inteira? Ok. Um xingamento, uma risada, uma encurralada, alguns abusos disso e daquilo. Ok, ok, ok e ok. Lá estou eu, sabe-se lá Deus como. Teimosia, burrice, fugas, sinceramente, não sei como.