"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Realidade e despersonalização



De repente... De repente... As coisas se tornam tão estranhas, tão devagar, tão irreais, olho para as pessoas que eu conheço desde sempre e elas parecem estranhas para mim, sorrio olhando para o mundo como se fosse a primeira vez, como se estivesse descubrindo um mundo novo, como se estivesse mergulhando em uma história que não é minha, observo de fora o que meu corpo faz, distante. De repente tudo o que sempre tive certeza se desfaz líquido logo a frente.

É como se algo se rompesse. Mas nem sempre é ruim... As vezes sinto vontade de rir, é tudo tão estranho. As vezes me desespero, tenho medo de estar morta, desse não-sentir, desse não-ser, dessa ausencia de mim, como se eu tivesse me perdido para sempre, então eu preciso de algo para sentir, para me encontrar, para provar para mim mesma que eu estou viva, bem aqui, em algum lugar aqui dentro. Foi por isso que começei a me bater, me arranhar, me cortar, não importa.

O que é real? As vezes eu me pego perguntando. O que eu estou vendo agora é verdade ou é só uma alucinação? Eu vi mesmo aquilo? Não pode ser verdade. Aquilo conteceu? Também não sei... O que sou eu? Quem é essa pessoa que mora dentro de meu corpo que eu tendo tanto a rejeitar. O meu passado existiu? O que eu fiz ontem? Onde eu estava? Porque estou aqui? As vezes não me sinto dona da minha vida... É como se alguma coisa na minha cabeça brincasse comigo, me desligasse por alguns minutos de vez enquando, bagunçasse minha cabeça, me fizesse sentir coisas, ver coisas, achar que coisas aconteceram ou deixaram de acontecer, é como se alguém só me permitisse ver minha vida em flashes, o tempo da saltos, ele é roubado de mim, me vejo em um lugar e de repente em outro, sem saber o que fiz nesse meio tempo.

É como o nome do meu transtorno diz. Borderline. Vivo na fronteira de um surto, da loucura. A um pequeno passo disso.

É uma benção e uma maldição que quem sofre com a despersonalização consiga manter sua analise crítica. Nós temos consciencia de que isso não é normal... Consciencia de que nada disso é real e que estamos vivendo uma crise. É como se... você estivesse se assistindo ficar louco. O que é desesperador. Um louco não sabe que é louco, não percebe que está ficando louco. Nós percebemos.

É desesperador... Mas nós percebemos. Nossa razão está viva ainda em algum lugar dentro de nós. O que é consolador também se visto dessa forma... Não perdemos a cabeça, ela só está com um pouquinho de defeito imagino.

sábado, 16 de abril de 2011

Sonhos



O que eu mais quero na vida é ser normal. Estou cansada de mim mesma.

Me perdoe pelo drama



Nesse momento... Meu coração dói quase que insuportavelmente, e eu choro... É bom que ao menos esteja chorando, se não estivesse conseguindo chorar eu teria que fazer alguma coisa para expressar minha dor, para me aliviar. Mas mesmo assim, dói tanto... Que eu tenho que me controlar muito para continuar aqui escrevendo, quero que isso passe, preciso que isso passe. No entanto estou escrevendo... Só porque você me pediu.

Dói tanto... Gostaria de poder desmaiar ou morrer, até isso passar, até as coisas melhorarem. Mas não vão melhorar, eu sei que não vão... Eu luto contra mim mesma todo o santo dia, com todas as minhas forças... E nunca venço. Eu nunca vou vencer. Seria tão mais fácil desistir... Me deixar enlouquecer, me perder dentro dessa dor toda, rasgando minha pele até não ter mais sangue para escorrer... Eu só não faço isso porque amo você, porque amo minha mãe, meu irmão... Eu não suportaria fazer vocês sofrerem, só por isso eu continuo lutando.

Você diz para eu aprender a me virar sozinha... A me amar e melhorar por mim mesma e só por mim... Eu não consigo. Não consigo, me desculpe. Tenho tanto medo de ser abandonada, de que você desista de mim... Acho que você já desistiu na verdade, só eu que não quero enxergar isso. O que eu vou fazer? Para onde eu vou? Tenho vontade de implorar para você não me deixar... E o pior é saber que justamente porque eu tenho essa vontade que você está me deixando. O pior é saber que eu faço mau para você, que você está muito melhor sem mim... Que você vai continuar sua vida, vai avançar em seu caminho sem mim, feliz. E eu não... É egoísta? É... Me desculpe por isso também. Eu me odeio. E odeio me odiar porque isso afasta você.

Odeio o que eu sou ou o que eu me tornei... Odeio tanto. Odeio tanto essa dor, esse medo, essa necessidade que eu tenho. Você pensa que eu te uso né... para me sentir melhor e por isso eu te amo. Sim, você faz eu me sentir melhor, você preenche esse vazio em mim... mas pense. Poderia ser qualquer um, mas é você. Isso para mim é amor. Para você não é o bastante.

Acho que não posso ser quem você quer que eu seja... Eu tento, juro que eu tento... As vezes eu me engano, e penso que estou melhorando, e que não preciso de mais ninguém. Mas é mentira. Eu preciso. Dói tanto ver você virando as costas para mim, é quase insuportável, dói tanto ver que por mais que eu lute eu nunca vou melhorar o suficiente para você.

Mas eu entendo... que sou um problema grande de mais e que é injusto você ficar com alguém que só te faz sofrer... Me desculpe por querer ficar com você, me desculpe mesmo. Se eu fosse uma pessoa melhor eu conseguiria ficar feliz por te ver bem sem mim. Mas eu não consigo. Eu não sei o que fazer comigo mesma, quero morrer... seria melhor para todo mundo, nunca vou conseguir chegar a lugar nenhum de qualquer jeito. Queria tanto nunca ter existido... nunca ter nascido... Me apagar por inteira e acabar com tudo isso. Só isso que eu quero agora.


A questão do preconceito



Ah, falar de preconceito é chavão... Já está todo mundo cansado desse papo de direitos iguais e não sei o que.

É, eu também estou cansada. Estou cansada de ter medo de andar de mão dada na rua com quem eu amo, estou cansada desses olhares, nessa gente que faz questão de vim falar comigo só para me humilhar, estou cansada as brincadeirinhas e das risadas, das provocações, desse "você só precisa de um homem de verdade". Estou cansada de ver no jornal dia após dia manchetes de gente que apanha e morre por algo que não tem culpa. Toda vez que leio isso eu penso "poderia ter sido eu", poderia ter sido você também, mas você está pouco se fodendo... Para você preconceito contra homossexual não existe, é tudo frescura, esses viados só querem saber de "tratamento vip" certo? Querem ser diferentes e serem tratados diferentes.

Cara, eu quero ser tratada com o mesmo respeito que vocês tratam um heterossexual, só isso. Quero poder ser quem eu sou sem correr o risco de ser morta poraí. Estou cansada de gritar pelos meus direitos junto com tantas outras centenas de pessoas castigadas por vocês e nunca sermos ouvidos. Estou cansada desse papo "ah mas gordo também sofre preconceito e não existe leis especiais para defender eles", ok, não nego sua dor por ser gordo... Mas ninguém fica gritando na porta da tua casa com cartazes dizendo "morte aos gordos", ninguém quer te matar por você ser gordo, ok?

Heterossexual nenhum entende a dor pelo que passamos, a negação, o abandono, o desprezo... Seus pais não te odeiam por você ser feio, gordo ou sei lá o que, não é? Nossos pais nos odeiam. O mundo nos odeia. Nós mesmos temos que lutar muito para não nos odiarmos também. Você sabe qual o tamanho da dor de ser rejeitado pela própria família? Não, você não sabe.

Isso não é se fazer de vítima. Isso é a realidade. Por mais que você feche os olhos para ela. Nesse momento quantos milhões de crianças e adolescentes estão perdendo as esperanças de viver por causa desses seus gritos de ódio? Você não pensa nisso.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Crianças abandonadas



Toda criança precisa de atenção, carinho, contato afetivo, sensação de segurança, conforto e amor. Mas o que acontece quando isso não existe ou vem de forma falha e confusa? Crianças solitárias, fechadas e cheias de olhares assustados não são um bom sinal. O que acontece quando uma criança cresce em um ambiente onde ela tenha que ficar todo o tempo em alerta, esperando ser surrado a qualquer momento por qualquer pequeno erro, esperando a próxima vez que alguém vai passar a mão em seu corpo de forma errada e dolorida, esperando um xingamento qualquer, alguma coisa que faça ela se sentir errada e má, suja. O que acontece com uma criança que cresce cercada de críticas, em um ambiente duro de mais, onde abraços sinceros e carinhosos não existam e a palavra amor é completamente desconhecida e surreal, coisa de conto de fadas. O que acontece?


Onde está seu filho agora? Você sabe? Você conhece o ambiente que ele vive todo o dia? Conhece todas a pessoas a sua volta? Quando você acha seu filho chorando escondido em um canto você ignora e finge que tudo vai bem ou você procura saber quem são os monstros que o atormentam? Você é o monstro do seu filho?


Pessoas que fazem coisas ruins nunca se vêem como más. Nunca percebem ou admitem o mau que fazem... Isso é horrível. Sabe quem se sente culpado no final? A própria criança. Afinal... Deve ter algo errado nela para que as pessoas a castiguem tanto... As pessoas são castigadas quando fazem coisas ruins, é uma lógica simples. Portanto, ela começa a se enxergar como sendo ruim e errada, começa a pensar que merece tudo o que fazem com ela. É um começo tímido de algo horrível que vai persegui-la pelo resto da vida.


Uma criança sem base se torna um adulto problemático e incompleto. E há poucas coisas que podem ser feitas para se concertar o buraco deixado pelos anos de sofrimento, principalmente quando esses anos correspondem aos mais importantes para a formação da personalidade e tudo o que somos. Por trás de nós, borderlines, esquizofrenicos, depressivos e tantos outros, há crianças assustadas e perdidas, mentes e almas destroçadas, vidas interrompidas que caminham cambaleantes sobre uma areia movediça, sempre disposta com todas as forças a nos empurrar para a escuridão. Não somos muito mais do que isso: crianças. Precisamos do seu amor, entenda. Precisamos construir a base da nossa vida que está faltando, tenha paciência e um pouco de compaixão. Vocês nem imaginam como todo e qualquer apoio é vital para nós.


Toda criança precisa se sentir aceita e amada. Eu preciso me sentir aceita e amada. Eu me agarro a minha psicóloga como uma náufraga... Totalmente desesperada. Eu amo ela, e preciso que ela me ame. Saber que eu vou vê-la e receber um simples elogio pelo meu progresso me anima de tal forma e me da tanta força que até eu mesma percebo o grau de infantilidade e carência que isso é. É engraçado... Ela é uma boa psicóloga, é visível que ela está tentando fazer eu me tornar o mais independente possível dela e de qualquer pessoa. Mas me apavora a idéia de que um dia eu possa não precisar mais desse apoio, por mais incoerente que pareça. Eu luto com tudo o que eu tenho para mostrar para as pessoas que eu amo que estou bem e que vou continuar melhorando, assim eu tento não ser um peso muito grande e tudo o mais... Mas tenho tanto medo ainda de ficar sozinha. Quando eu era pequena ninguém nunca caminhou de mão dada junto comigo e eu precisava dessa mão. Ninguém nunca apareceu para me salvar, e o pior é que eu tinha já tanta certeza que ninguém me salvaria que nem sonhar eu sonhava. Agora eu tenho duas mãos onde eu posso me segurar e me agarro a elas com tanta força, por uma questão de sobrevivência, que você simplesmente precisa ter um pouquinho de paciência, eu te peço.


Cuidado com suas crianças, ok? Eu imploro. Ninguém precisa passar por isso. Ninguém merece passar por isso.

Eu sou gay


Quem tava ligado esses dias no twitter viu a nova campanha que tá rolando poraí, chamada #eusougay (estava no topo dos TT's ontem mesmo). Essa iniciativa foi tomada em homenagem a adolescente morta em Goiás em um crime de homofobia praticado pelos familiares de sua namorada. O objetivo é incentivar as pessoas a mostrarem sem medo quem são, além de aumentar a visibilidade da comunidade GLBTT. Quem quiser participar basta postar qualquer coisa apoiando a campanha com o hashtag #eusougay. Também estão pedindo para quem quiser mandar fotos segurando um cartaz, papel, tanto faz, escrito "eu sou gay", vão produzir um video depois com essas imagens para a campanha. Mandem para projetoeusougay@gmail.com

Vale ressaltar que todos podem participar, sendo ou não gay. Essa não é só uma campanha do tipo "saia do armário" e sim uma campanha contra a homofobia, a vergonha e medo que qualquer pessoa pode sofrer. Sejamos gays, heteros, homens, mulheres, negros, brancos, baixos, altos, magros, gordos, juntos! É isso ai gente. Levantem a cabeça, vamos ser quem somos sem medo!

Vai ai o site oficial do projeto, para quem se interessou recomendo muito ler http://projetoeusougay.wordpress.com/

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Esse vazio - Você precisa entender


Não é algo explicável, não é algo que tenha um motivo justificável... É algo que te pega de surpresa a qualquer instante, voltando para casa nas tardes chuvosas, conversando com alguém em uma manhã preguiçosa ou em uma tarde quente, não importa. É como um buraco negro. Que suga todas suas energias, todo seu ser, até que você sinta que desapareceu. É uma dor desesperadora no peito, é um medo, uma necessidade de algo que você não sabe o que é. É uma vontade de vomitar, uma sensação de que tem algo muito doente dentro de si, como um câncer talvez, que vai tomando seu corpo e te destruindo. É um sorriso insano em seu rosto, totalmente incoerente com a dor que você está sentindo, é aquela vontade de bater sua cabeça na parede até desmaiar, ou qualquer outra coisa que faça essa vazio ir embora. É a loucura batendo a sua porta, você sente, sua parte lúcida sente e se desespera com isso. É aquela dúvida estranha de que nada disso é real, ou será que tudo é real de mais? Não sei. É seu corpo que não é mais seu. É toda a sua essência que morre nesses minutos. Toda sua história, tudo o que você é e sonha... Simplesmente deixa de existir. E você vira essa coisa, machucada e dolorida. Que precisa se destruir.


Um dia ruim para mim é quando isso dura mais do que alguns minutos. E eu não consigo dizer para ninguém a minha volta o que está acontecendo... Então eu me vejo sozinha. Onde estão meus amigos? Onde está meu médico? Minha psicóloga... Meus pais... Qualquer pessoa. Eu simplesmente me pego perdida em um lugar qualquer, sem saber quem eu sou, onde eu estou, o que fazer, para quem ligar.


Você precisa entender... Que eu faço tudo o que eu posso para melhorar, mas algumas coisas não depende só de mim, está na minha cabeça, faz parte de mim, não tenho como me desligar do meu transtorno.


Mas até onde eu puder lutar por mim mesma, eu vou lutar. Até onde eu puder melhorar eu vou melhorar. E isso deveria ser o suficiente para você. Me deixe provar que sou forte. Que eu posso te ajudar... Não vou decepcioná-la. Acredite em mim.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Gente do armário


"O que te incomoda nos outros é o que está preso dentro de você"


Quando você sai da negação que foi a sua vida inteira, você aprende a reconhecer isso nas pessoas a sua volta. Essa necessidade de se provar, esse falatório exagerado, essa preocupação com o que os outros vão pensar, esse esforço para fingir algo que você não sente, essa mentira tão óbvia que você se recusa a enxergar...


Tenho vontade de sacudir vocês gritando o quão ridiculamente fácil está de ver quem vocês são de verdade.


Não adianta, você pode escolher viver sua vida de heterossexual se você quiser. Mas por dentro você sempre vai ser gay. Lute contra você mesmo o quanto quiser, é inútil.


Ora... Vamos lá, todos vocês preso em seus armários. Deixem essa pequena dúvida entrar em suas cabeças "será que eu sou gay?", é a chave para a liberdade. É o primeiro passo para se descobrirem.


A vida aqui fora é tão bonita... Bolsanaros existem de montes poraí, é verdade. Mas não tenha medo! Surra, xingamento e preconceito nenhum pode apagar essa alegria dentro de nós de podermos ser quem somos. E quando você conhecer o amor, o amor de verdade, aquele que te pega de surpresa, ai sim você vai ver que todas essas dificuldades não são nada frente a isso. Coragem. Vamos mostrar ao mundo que existimos e não somos poucos não. Seja você mesmo, chega de se esconder atrás de todas essas mentiras. Para mim já está mais do que na hora de abrirmos essa porta.

Regras.


Exige-se tanto de mim. Sorrir, ficar quieta, falar, ficar séria, entender, aprender, crescer, criar. Ser normal. Engolir o choro, engolir o medo, ignorar o vazio sufocante. Ficar bem, ficar lúcida, ser responsável. Não beber, não me machucar, não fazer nada idiota. Me justificar, me explicar, fazer sentido para as pessoas a minha volta. Me desculpar, me sentir mau, me sentir culpada.

É tudo confuso de mais... Não sei quem vocês querem que eu seja, não sei quem eu sou de fato, não sei o que eu devo fazer.

Agora eu tenho medo de ser sincera aqui também... É tão fácil as pessoas usarem o que eu escrevo contra mim. É tão fácil acabar comigo, achar motivos para ficar longe de mim... Sou a coisa mais vulnerável que eu conheço. As pessoas não entendem. Eu preciso escrever para tirar essa escuridão de mim, mas quando eu escrevo eles pensam que eu sou isso. Tudo bem.... Isso faz parte de mim, mas não sou toda assim. Escrevo porque preciso me sentir melhor, preciso colocar para fora isso que se passa dentro de mim. Eu preciso que alguém leia também, preciso sentir que alguém me escuta, mesmo se for um estranho, não importa.

Faz eu me sentir menos vazia e perdida.

Então estou pedindo licença para você, que se incomoda ou fica mau com o que eu escrevo. Eu realmente gosto muito desse espaço... Me permite vomitar aqui meu lado ruim quando eu precisar?

Preciso disso. Quero tanto ficar bem... Quero tanto que você acredite em mim.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Homens?



Bem longe de mim por favor, que fique claro. Obrigada. Nada pessoal. Mas se é difícil aceitar minha homossexualidade, me imagine como homem também. Você não pegaria outro homem, pegaria? Então pronto. (Me fudi se você respondeu que pegaria. A não ser que você seja mulher, ai sim. Gay é homem. Só pra ficar claro.) Ufa. Me sinto trocentos kilos mais leve.

Carpe Diem - Seize the Day


"Todo o abismo é navegável, a barquinho de papel". Não caia pequena. Se agarre às coisas simples. Carpe Diem, aproveite o dia, como se ele fosse o último.

São conceitos bonitos, mas ninguém realmente segue isso. Ninguém acorda todo dia disposto a fazer o melhor possível. Ninguém vive o hoje sem temer nem um pouco o futuro (a não ser pessoas totalmente inconseqüente). É natural... Mas não deixe que o medo te impeça de viver, não, não deixe que o medo te segure, não de passos para trás. Não deixe sua vida escorrer pelo seus dedos, se agarre às suas chances. Lute, cresça, tome rumo. Podemos fazer isso juntas se você quiser.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Ser e não ser. - Sobre minha maldade.


Olá, meu nome é Sabrina. Tenho alguns problemas, mas não vou apresentá-los para vocês, porque da mesma forma que eu não sou só um problema, eu também não deixo de o ser. É algo inerente a mim. Eu gosto que as pessoas gostem de mim do jeito que eu sou, a minha vida inteira eu sempre busquei isso, me tornando qualquer coisa menos eu mesma. Hoje minha essência reclama sua liberdade de poder ser, após esses 18 anos. Minha alma é escura, por mais que eu sorria por fora. Eu conheço minha essência... Não passa de uma criançinha malvada, vingativa, exigente e carente... Abandonada, machucada, medrosa. Chorando baixinho enquanto planeja planos malvados para evitar mais um abandono, mais um chute, mais um abuso, mais uma dor.

Sou inquieta, sempre com medo, sempre buscando algo em que me agarrar, sempre doando tudo o que eu posso na esperança que alguém goste de mim, me abrace e não solte nunca mais. Mas as pessoas sempre vão embora, eu sei disso desde sempre. Estou acostumada a ser abandonada, calejada já... É sempre a mesma história, as mesmas desculpas ditas de formas diferentes. "Você é um problema grande de mais" "Eu não aguento mais..." "Não sei o que fazer" "Você vai acabar com todo mundo a sua volta" enfim... Eu sou má. Muito má... E burra ainda por cima, porque só me toco o quão grave é o mau que eu estou fazendo quando essa pessoa vira as costas. Quando ela faz o que eu tenho mais medo na vida: me deixa sozinha. Sou muito auto-centrada, não confundam com egocêntrica, eu não acho que o mundo gira ao meu redor, o problema é que eu mesma só giro ao meu redor, ao redor dos meus problemas, traumas e medos. Eu luto o tempo todo comigo mesma, isso me toma muito tempo e energia.

Sou confusa e contraditória... Quanto mais as pessoas me conhecem, menos elas me conhecem. É fácil prever minhas ações, minhas birras e choros, minha impulsividade. Mas imagino que não seja fácil entender minha cabeça e o porquê das coisas. O que eu faço e sou só tem lógica para mim mesma e eu não sei explicar. De qualquer jeito não importa... Ninguém sabe dizer ao certo quem é. Mas exige-se de mim saber. As pessoas se incomodam... Com o fato de eu ser feita de opostos. Essa é minha realidade, é difícil aceitar que coisas tão opostas e contraditórias caibam em uma única pessoa, mas é assim que eu sou. Sou a melhor pessoa da terra e a pior. Não suporto fazer mau a nenhuma alma no planeta, mas é isso o que eu mais faço. Por mais que o meu alvo seja sempre só eu mesma, quem eu mais machuco no final é as pessoas a minha volta...

Eu me odeio por isso... Um dia gostaria de colocar todas as pessoas no mundo que eu já fiz chorar um dia e dizer simplesmente... Me desculpem. Me desculpem por decepcioná-los, por não ser quem vocês pensavam que eu era, me desculpem por me destruir, por preocupá-los, por ser um problema pesado de mais, me desculpem se não consigo melhorar tão rápido assim, me desculpem se tenho fraquezas e acabo sempre caindo na minha armadilha, me desculpem se um dia prometi que seria isso ou aquilo, ou pararia de fazer isso ou aquilo, me desculpem meu medo que me faz agir de forma irracional, me desculpem por não saber lidar com esse vazio em mim, me desculpem se algum dia vocês se sentiram usados, me desculpem não tratar vocês tão bem quanto deveria... Me desculpem ser tão má.

Eu sei que não tenho nem nunca vou ter crédito com vocês, sei que vocês não acreditam em mim... Mas por favor, se tem uma coisa que eu preciso que vocês acreditem... É que eu amo. Me chamem do jeito que quiserem, me xinguem como quiserem, me abandonem quando quiserem, mas não digam que eu não amo. Por favor, não tire o que eu sinto, por favor... É a única coisa na minha vida que eu tenho total certeza. Eu amo, e quando amo, é para sempre. Eu amei UMA pessoa aos cinco anos e amo até hoje, amei UM amigo no primeiro colegial e amo até hoje... E amei você e vou continuar amando. Porque é assim que eu sou. Não vou deixar de amar... Uma criança abandonada pelos pais no fundo nunca deixa de esperar que eles voltem (ao menos enquanto é criança). Sou exatamente assim.

Você quer que eu me cure... Que eu melhore 100% para sempre. Você não ouviu meu psiquiatra e minha psicóloga me avisando que não tem cura... Que é impossível. Eu não estou doente, eu sou doente. Como uma pessoa que tem diabete... Ela sempre vai ter. Ela sempre vai correr o risco de não resistir a um doce e ficar doente. Eu sempre vou correr o risco de cair. Mas eu posso aprender a lidar comigo mesma, posso aprender a ter auto-controle, posso aprender a não me machucar e não machucar os outros, posso aprender a juntar minhas personalidades... E eu estou aprendendo, estou melhorando ainda... É uma pena que você não tenha visto nada do meu esforço nesses 7 meses, é uma pena que você não me valorize. Mas tudo bem, eu também não me valorizo, não posso exigir isso de ninguém. Um diabético pode piorar, pode ter uma "recaída", pode até ficar cego ou morrer... Mas ninguém briga com ele por causa disso. Mas brigam comigo.

Eu sempre exigi de mim mesma a perfeição... E quando eu desisto disso, ai é a vez do mundo exigir isso de mim. Estou tentando ser o melhor que eu posso, estou lutando, sempre estou... Mas ninguém ve. As pessoas sempre estão do meu lado quando estou bem... Mas ai eu pioro... E é só uma questão de tempo para todo mundo ir embora. Eu entendo o lado de vocês... Entendo sim. Eu acho que vocês tem todo o direito de fazer qualquer coisa comigo, entendo sua dor e seu medo...

Mas você entende o meu? É duro ser a vilã da história... Principalmente quando isso é última coisa que você quer ser. É duro ouvir que você não acredita no meu amor, é duro perceber que você pensa que eu estou te usando, é tão duro... Ouvir que você acha que eu não me esforço o suficiente ou que você acha que eu não quero melhorar. Acho que você nunca me enxergou de verdade. Você me acusa de não ser quem você ama... De não ser a Sabrina que você ama. Mas e se a Sabrina que você ama não passar de uma idealização que você fez de mim? Você diz que eu não deixo você me conhecer, que você tem medo de acordar um dia do lado de uma pessoa completamente diferente. Mas você já viveu esses 7 meses com meus dois eus. Só que talvez você não admitisse isso para você mesma. Você quer que eu melhore... Mas eu não sei o que é melhorar para você.

Estou sempre melhorando, mesmo tropeçando. Nunca desisti de tentar melhorar. O que você mais espera de mim? Eu nunca vou ser perfeita, me desculpe... Se você espera que eu me torne perfeita para ficar com você, sinto muito, mas é impossível. E parar de me cortar não significa que eu estou curada, só para avisar. Não se engane. Existe milhões de formas de fugir. Beber é uma delas, e você bebe. Todo mundo tem defeitos e fraquezas... Mas as pessoas tem a mania de se concentrarem mais nos meus. Como se eu fosse a única coisa errada do mundo.

As vezes eu penso que você acha que eu posso simplesmente "desligar" meus problemas. Aparecer curada de um dia para o outro. Será que você não pode saborear minhas pequenas vitórias comigo? Será que eu não posso te contar algo como "hoje me senti mal, mas não me cortei." e você ficar feliz comigo? Talvez seja difícil para você perceber que isso é sim uma vitória enorme, talvez você ache meus problemas banais, talvez você não me ache forte nem faça idéia do quanto eu me controlo, do quão dedicada eu sou... Não sei. Mas da mesma forma que eu comemoro suas pequenas e grandes vitórias. Da mesma forma que eu fico feliz quando você está feliz. Será que você também não pode fazer isso? Para mim isso é amor de alguma forma.

Mas você não me vê, você nem ao menos percebe meu amor. Você não quer que eu melhore. Você quer que eu vire outra pessoa e você nem ao menos sabe que pessoa é essa. E isso eu não posso ser.

Me desculpe se está parecendo que eu estou te culpando. Não estou te culpando, eu sei que sou uma pessoa horrível, sei que faço muita coisa ruim, eu sei muito bem o que eu mereço. Só estou dizendo o que parece para mim, da mesma forma que você disse o que parece para você. Agora onde está a verdade, eu não sei. Talvez nos dois lados, ou em nenhum deles.

Não estou triste, não vou fazer besteira. Mas também não vou falar como eu me sinto, porque se não você vai usar isso contra mim para dizer qualquer coisa. Vai me chamar de louca como todo mundo, vai dizer que eu nunca vou melhorar... Estou cansada de gente que não acredita em mim. Não preciso dessas palavras. Não preciso de mais argumentos para desistir. Já tenho todos decorados, posso ouvi-los ditos por diversas vozes, diversos jeitos e diversas intenções. Mas no final... Não passa de um "eu não te aguento" "não acredito em você" "não acho que valha a pena lutar por você" e só.

Eu te amo... Mas de que adianta eu falar se você não acredita?

Sabe... eu estava lutando, e meu presente diário para você era mostrar que eu estava bem e eu realmente me esforçava muito para isso. Meu presente era te dar um sorriso, um abraço, qualquer coisa que você pudesse precisar. Mas isso nunca foi bom o bastante eu acho. Acho que nunca compensou seus medos e inseguranças. Bom.... Tudo bem. Você foi muito mais que o bastante para mim. Saiba disso.

Você foi perfeita para mim. Me desculpe não ser boa o bastante para você. Espero que você seja feliz... Que você ache alguém melhor do que eu, alguém não problemático, alguém que te de segurança e todo o apoio que você precisar. Me desculpe te fazer chorar, nunca vou me perdoar por isso. Eu tenho certeza agora que é injusto qualquer pessoa me amar, não vou deixar isso acontecer de novo. Obrigada por tudo, obrigada por sempre abrir meus olhos e ter sido minha luz por tanto tempo. Só queria não ter sido suas trevas. Me desculpe.

Me esqueça, sua vida vai ser mais fácil. Você tem sorte de poder fugir disso.

Desculpas


Você... Ora, você! Tão inútil e errada. Você que é o problema de todas as pessoas a sua volta. Você que não passa de um peso. Você notou? Espertas foram as pessoas que sutilmente se afastaram de você, agora observam de longe, seguras. Espertas as pessoas que desistiram de sofrer por você. As que te vêem e não perguntam mais "como vai você?" porque sabem que a resposta nunca é um simples "tudo bem".

Você ai, se fazendo de vítima, vítima de si mesma. Que ridículo... Você não pode simplesmente se controlar? Você não pode simplesmente crescer? Pare de fazer essas coisas, não é possível que seja tão difícil assim. Todo mundo tem dias ruins, porque você acha que o seu é pior do que os outros? Ninguém faz o que você faz. Nada justifica isso que você é. Como você explica isso? Por que você faz isso? Me diz, por quê?

Eu não sei porque. Não sei... Não... Eu sei que todo mundo sofre, sei que existem pessoas que sofrem mais do que eu e não fazem essas coisas, eu sei. É só que eu acho que alguém roubou algo do meu cérebro e do meu coração, que me faz ser assim. Algo falta aqui dentro, algo muito importante... Então eu preciso fazer alguma coisa, qualquer coisa, para tapar esse buraco, entende? Não você não entende, o vazio não é um vazio normal, é desesperador... E quando ele dói, acho que fico meio doida, sinto como se não fosse mais eu, acho que eu morro quando isso acontece. Ai meu monstro toma conta de tudo. Meu monstro não tem sentimentos, ele gosta de me machucar, é o único jeito que ele consegue sentir. E ele e eu precisamos sentir. Não sei o que aconteceria se eu desistisse de lutar para sentir, acho que morreria, acho que nunca mais conseguiria voltar a ser eu mesma, acho que enlouqueceria.

Vivo minha vida em função dos meus sentimentos desenfreados e intensos... Se me tirarem isso, eu viro ninguém. Eu desapareceria. Não quero desaparecer, quero sentir que estou viva ainda em algum lugar, quero voltar a ter esperança de melhorar... E para isso eu preciso me cortar, preciso sentir, isso me acalma, me faz voltar para a terra, me faz voltar a ser a sabrina, faz meu monstro se aquietar bonzinho dentro de mim. Não sei o que mais eu posso fazer... Eu aguento sim, por um bom tempo... Mas eu tenho um limite, meu limite de sanidade. E quando eu chego nessa tênue linha, em que eu sinto os pedaços da minha personalidade se perder no emaranhado que eu sou. Eu realmente preciso fazer algo para não enlouquecer.

Mas isso tudo não passa de desculpas.